Donos encontram na modernidade formas de abandonar os animais

A história é sempre parecida. Os pais pensam que um animal pode ser bom para ajudar na educação do filho, ou então a pessoa mora sozinha e sente falta de companhia.

Vão até lojas que vendem animais e compram um bichinho. Muitas vezes, um cachorro de raça, cujo valor pode passar de R$ 1.000,00. Tanto investimento e alguns esquecem que para educar é necessário tempo e dedicação.

O caminho mais fácil é abandonar nas ruas longe de casa, transferindo o problema para outros. Mas ultimamente, uma nova forma de abandono tem se tornado comum na cidade. O chamado abandono premeditado está transformando os pet shops e hotéizinhos, paraísos de consumo da indústria animal, em verdadeiros orfanatos de cães e gatos.

Em Campo Mourão, já foram registrados vários casos de pessoas que queriam livrar-se de um animal e marcavam banho e tosa, ou um certo período nos ‘hoteis’ e quando eram procurados para buscar o animal, não eram localizados. “Tivemos vários casos. Um que me lembro bem é de uma mulher que deixou um cachorro para banho aqui e nunca retornou buscar. Tentamos de todas as formas falar com ela mas os três telefones, de casa, celular e escritório, eram falsos. Só por aí você já vê que era coisa premeditada”, conta Cristiane Aparecida de Paula, sócia de um pet shop na cidade.

Além desta, ela relatou outros casos, como de um que deveria ficar 10 dias sob seus cuidados e acabou ficando 40. “Depois de uns dois dias do prazo, ligamos também para a pessoa que deixou e nada de localizar, ficou mais 10, depois mais 10, acabou ficando mais do que um mês, pois sabíamos que não viria ninguém buscar, a solução foi colocar para adoção”, diz.

Apesar das histórias tristes, todos os animais deixados no pet conseguiram encontrar um novo lar. “Acho que o que mais marcou foi um dia que chegamos para abrir e tinha um cachorro amarrado no portão da clínica doente. Cuidamos dele e encaminhamos para adoção também. As histórias não param, teve uma vez que encontramos um cachorro deitado ao lado de uma bacia de polenta, também abandonado”, lamenta Cristiane. Destas histórias, apenas um animal era vira-lata, ou Sem Raça Definida (SRD) como dizem. Para evitar que essas histórias se repitam a Associação de Proteção aos Animais (Apasfa) tem um projeto de que as casas veterinárias só tenham permissão de vender animais castrados (box).

Entidade prega fiscalização e parceria no trabalho
“A função das Associações ou Ong’s é fiscalizar, podendo formar parcerias com órgãos responsáveis, mas não fazer o trabalho destes como vem acontecendo com a Apasfa. Para isso, os impostos já são pagos, o que é preciso é que a população busque esclarecimentos e aprenda a participar da gestão municipal”, diz Maria Helena Darolt, uma das coordenadoras voluntárias da Associação de Proteção São Francisco de Assis (Apasfa). Fazendo um balanço dos anos em que esteve a frente da entidade, ela revela que muito foi conquistado em termos de conscientização e políticas públicas, mas que as pessoas ainda não sabem diferenciar o trabalho dos orgãos públicos do trabalho de Ong’s.

A primeira coisa que a maioria das pessoas faz, quando vê um animal nas ruas, é pensar porque a associação ou a prefeitura não estão fazendo o seu trabalho que é, dizem, recolhê-los e deixar as ruas livres. O que muitos se esquecem é que cuidar do animal é dever de seus donos. “Se cada proprietário cuidasse de seu animal, não teríamos o Depósito Municipal de Animais (canil) e, consequentemente, este animais teriam melhor qualidade de vida, as vias publicas ficariam mais seguras quanto á questão de animais e o numero de animais estaria equilibrado. Uma Associação e ou Prefeitura, não pode e não deve recolher animais indiscriminadamente, seria necessário muito espaço, muito dinheiro, e vários outros funcionários”, diz Helena.

Segundo a voluntária, desde que assumiu, vários projetos já foram protocolados na Câmara de Vereadores em prol dos animais. “Acreditamos que este é o jeito certo de administrar o voluntariado não somente em prol dos animais, mas da saúde pública e meio ambiente. Analisamos o que está previsto em lei e tentamos implementar a medida que achamos ética. Por mais que o que conseguimos seja pouco, essa é a primeira gestão que apoia uma associação de proteção, mesmo porque hoje temos leis ambientais que protegem os animais”, diz.

Uma das conquistas que ela destacou é a verba que foi liberada, com apoio dos vereadores, para castração de animais de famílias de baixa renda. “Vamos envolver os presidentes de bairro nesse programa de controle. Eles foram escolhidos para melhorar as condições dos bairros e conhecem melhor o local. Junto com eles, vamos fazer um levantamento e acompanhar se a castração foi feita. Assim, evitamos que haja o aumento no número de animais nas ruas”, completa. Outro projeto da associação é que em breve, as casas veterinárias só tenham permissão de vender animais castrados para evitar que criem e os donos sem poder ficar com mais animais, usem os como ‘presentes’ para amigos que futuramente irão abandoná-los. Segundo ela, países que atuam a mais tempo na questão já proibiram o comercio de animal não castrado.

Animais de raça
Segundo as estatisticas da Apasfa, foi-se o tempo em que animais de rua eram sinônimo de vira-latas. “O número de animais de raça que recolhemos é altíssimo. As pessoas acham ‘bonitinho’ dar de presente, não pensam no problema social. . Existem pessoas que vem de municípios vizinhos para entregar seu animal no Canil Municipal por isso, pedimos apoio para que aprovem o pedido para que seja estipulado uma taxa para o “cidadão” que se acha no direito de comprar ou deixar sua cadela criar e depois

abandonar o animal, gerando custos aos cofres públicos.” Helena explicou que cada cidade deveria assumir a responsabilidade pelos seus animais. “Estamos ajudando a criar várias associações de proteção nos municípios da Comcam. Assim, eles vão poder cobrar das autoridades lá também e poderemos nos dedicar só aos animais daqui”, afirma.

Necessidades
Entre as necessidades da associação, a voluntária destaca que são gastos muito com medicamentos e ração, além de material de limpeza e cobertores, agora que as temperaturas estão baixas. “Temos um objetivo de criar um solário no Canil, para que os animais possam sair das ‘celas’ e tomar sol, até para evitar que as doenças se espalhem ainda mais. Graças às doações, conseguidos muita coisa, mas ainda falta o alambrado, que sozinho, fica em torno de R$ 4 mil”, finaliza.