Banimento de transporte de animais põe ciência britânica em risco

A pesquisa médica na Grã-Bretanha está sob ameaça, pois grupos de direitos dos animais estão persuadindo transportadoras e companhias aéreas a não transportar animais que seriam usados em estudos, alertaram associações de pesquisa médica.

Pesquisadores reclamam que a falta de transportadoras operando na importação de camundongos, ratos e outros animais usados em testes de laboratório está interfirindo no desenvolvimento de novos medicamentos.

De acordo com os cientistas, os boicotes afetam apenas uma parte pequena dos estudos, pois a maioria das pesquisas utilizam animais britânicos. Porém, determinados programas dependem de animais específicos vindos de fora da Grã-Bretanha. “Ameaças à logística destes animais vai atrasar o progresso de pesquisas biomédicas essenciais para salvar vidas”, afirmaram, em comunicado, cientistas do Conselho de Pesquisa Médica, da Associação Britânica da Indústria Farmacêutica entre outras.

Apenas companhias aéreas de fora da Grã-Bretanha continuam transportando animais na região. Mesmo assim, dezenas delas, incluindo a American Airlines, Cathay Pacific e Lufthansa passaram a recusar transportar animais maiores, como macacos.

Michelle Ulyatt, porta voz da P&O Ferries – uma das maiores transportadoras da Grã-Bretanha–, disse que a decisão de parar de importar animais vivos foi tomada no ano passado “sob pressão de grupos anti-vivissecção”.

“Nossa primeira preocupação é assegurar a segurança da equipe e nossa reputação corporativa”, disse Michelle à Reuters, completando que o peso das campanhas contra o transporte de animais para pesquisa inclui o envio de cartas-bomba para executivos da transportadora.

O ministro de Ciência do Reino Unido, David Willetts, disse que o governo britânico está trabalhando com o setor de transporte e pesquisadores para desenhar um código para reger os laboratórios de animais. Se a recusa persistir, os animais deverão ser transportados por aeronaves e navios militares, afirmou Willets.

Grupos de direitos dos animais afirmam que é moralmente indefensável impor dor e sofrimento a animais e que as provas científicas para o uso de animais em pesquisas não justificam seu uso contínuo.

“Os experimentos em animais são conduzidos em sigilo, mas o publico não é bobo, ele entende o sofrimento ligado a isto tudo”, disse, Michelle Thew, executiva chefe da BUAV, grupobritânico de faz campanhas contra o teste de animais.

O ex-ministro britânico de Ciência, Paul Drayson, afirmou em artigo no jornal The Times que “estão se extinguindo pesquisas imprescindíveis” em doenças mortais como o Alzheimer e o câncer. “A pesquisa médica vai murchar nas nossas universidades e consequentemente mais pessoas ficarão doentes e morrerão”.

Campanha atingiu empresas brasileiras
Em fevereiro, o BUAV denunciou em um email que circulou pela Internet que macacos brasileiros teriam sido transportados pela Tam Linhas Aéreas para serem objeto de estudo na Universidade de Nebraska, em Lincoln (EUA). Na época, a assessoria de imprensa da companhia aérea confirmou ao iG que havia transportado os animais aos Estados Unidos no início de 2011, porém não informou seu destino final nem quem teria requisitado o frete. Questionada pelo iG, a universidade americana afirmou “que não havia primatas não humanos em seu campus”.