Posse responsável ajuda a diminuir eutanásia dos animais abandonados

Não é de hoje que o abandono e maus-tratos aos animais causam revolta na população bauruense. Após o Jornal da Cidade publicar, no último dia 8, matéria sobre eutanásia de animais no Centro de Zoonoses (CCZ) de Bauru, órgão da prefeitura que aprende cães e gatos errantes, leitores se mostraram indignados. Mas a própria posse responsável pode ajudar a reduzir a diminuir a quantidades de animais sacrificados.

A Prefeitura de Bauru, que mantém o CCZ, afirma que são sacrificados somente cães e gatos doentes. A média é de 400 animais por mês, a maioria com leishmaniose, doença que não tem cura. A estimativa é que Bauru tenha 60 mil cachorros e 20 mil gatos.

O problema é que boa parte deles não tem dono, vive perambulando pelas ruas. No último dia 28 o JC publicou, em seu caderno JC nos Bairros, ampla reportagem sobre o assunto. Apesar do trabalho das ONGs, que amparam esses animais, faltam políticas públicas para o setor.

Essa problemática, que já é causa de saúde pública, uma vez que animais, principalmente os abandonados, podem transmitir doença a humanos, poderia ser menor se a chamada posse responsável fosse colocada mais em prática. Ou seja, se o dono do animal, além de alimentação, vacinas, atenção, entre outros cuidados, não o deixasse na rua e o castrasse, o número de bichos domésticos abandonados seria menor.

Os animais em bom estado de saúde recolhidos pelo CCZ são colocados para adoção. Entretanto, as ONGs de proteção a animais cobram uma outra medida: a castração em massa. Uma opção para viabilizar a cirurgia de graça ou a preços acessíveis é fazer parcerias com faculdades de medicina veterinária.

Jalile Aziz, que já é bem conhecida na cidade por cuidar de cães e gatos abandonados e por promover a doação e cuidados a esses animais, enfatiza a importância da posse responsável já que muitas pessoas adotam animais e depois de um tempo não querem mais ficar com eles e os abandonam nas ruas.

“A posse responsável é o começo de tudo e vale para todos os animais. As pessoas têm que ter consciência que a partir do momento que ela adota um animal ela vai ter gastos com veterinário, vacina, ração, castração. Ou seja, com todos os cuidados que o animal tem direito”, ressalta.

Jalile afirma que já presenciou inúmeras pessoas, de condições financeiras variadas, jogarem caixas com filhotes de cães ou gatos no terreno que fica na esquina da rua onde mora. “Eu já vi tanto pessoas de classe alta, quanto de classe baixa, pararem seus carros aqui no terreno e jogarem caixas com filhotes de cães e gatos. Isso é um absurdo”, completa.

O advogado da Organização Não Governamental (ONG) Naturae Vitae, José Hermam, opina que maltratar animais é o começo para outros tipos de crime. Ele ressalta que a lei para as pessoas que maltratam animais funciona sim.

O que pouca gente sabe, afirma, é que cães, gatos, cavalos, pássaros, peixes entre animais, sejam eles domésticos ou silvestres, são tutelados pelo Estado. Ou seja, são resguardados pelas leis – de acordo com o decreto de lei 25.645 de julho de 1934.

“Além dessa lei, o Código de Processo Penal, em seu artigo 301, prevê que qualquer pessoa do povo poderá e as autoridades policiais deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. Tratando os maus-tratos aos animais como crime de acordo com a legislação, qualquer pessoa que constatar esse tipo de atitude poderá imediatamente dar voz de prisão ao acusado e acionar a Polícia Militar”, diz.

O advogado retoma uma cena muito comum na cidade, que é o abandono de animais no Bosque da Comunidade. “Se você constatar essa cena e puder anotar a placa do carro deste cidadão, deve fazer um boletim de ocorrência. Além dos maus-tratos ao animal, ele está criando um problema de ordem de saúde para a população porque esses cães e gatos abandonados e mal cuidados com certeza serão hospedeiros de doenças”, orienta.

Eutanásia causa revolta
Uma das pessoas indignadas com a eutanásia de animais abandonados em Bauru é Dinéia Rasi, que inclusive teve carta publicada na Tribuna do Leitor do Jornal da Cidade. De acordo com ela, pesquisa realizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) entre 1981 e 1988, como parte do projeto no combate à raiva humana e canina nos países em desenvolvimento, revelou que os programas de eliminação de cães abandonados são ineficazes e caros.

“O que eles gastam com os medicamentos para fazer a eutanásia nos animais eles gastariam com castração. Então, a falta de verba não seria o problema deles”, ressalta. Ela enfatiza que a esterilização desses cães e gatos é a melhor forma de combater a reprodução desenfreada e o aumento de doenças adquiridas por esses animais, que podem colocar em risco a saúde da população.

Assessores do deputado Feliciano Filho (PV), autor da lei 12.916/08, que proíbe a matança indiscriminada de cães e gatos apreendidos, visitaram o CCZ de Bauru e elaboraram um relatório que apontam a ocorrência de eutanásia de animais sadios. O CCZ nega. Afirma que apenas animais doentes são mortos.

Os assessores do parlamentar afirmaram que o local é um canil limpo com espaços amplos, que comportaria até um número maior de animais, com ração abundante e acesso a medicamentos. Mas, pelo que observaram, concluíram que animais, aparentemente sadios, são mortos.