Sequestro de animais de estimação, um “negócio” lucrativo no Vietnã

Eric San Juan

Ho Chi Minh (Vietnã), 9 abr (EFE).- Os animais de estimação são alvo habitual de grupos de sequestradores no Vietnã, que os capturam para conseguir grandes resgates, revendê-los como animais de estimação ou transformá-los em carne para restaurantes especializados.

“Se são cachorros ou gatos comuns, os enviam quase sempre aos restaurantes, mas se são animais de raça, tentam revendê-los como animais de estimação ou exigem um resgate ao dono. Vi gente desesperada pagar até US$ 1 mil para recuperar seu cachorro”, explicou o veterinário Nguyen Van Nghia, vietnamita que colaborou na libertação de dezenas de animais de estimação em Ho Chi Minh (antiga Saigon).

Nghia aconselha que as vítimas não paguem resgates, para que crimes como esses não se repitam, mas está ciente de que a maioria acaba cedendo à chantagem para reencontrar seu animal de estimação.

Hien Pham, uma vietnamita de 29 anos, ainda fica com os olhos cheios de lágrimas quando fala de Gina, uma cadela de raça sequestrada pela primeira vez em agosto na cidade de Ho Chi Minh.

“Ela estava a alguns metros de mim, diante da minha casa. Passava por ali um homem muito bem vestido que falava no celular. Não suspeitei dele por seu bom aspecto. De repente, agarrou a cadela, subiu em uma moto e desapareceu”.

“Já era de noite e não soube reagir, os vizinhos o viram, mas ninguém conseguiu perseguí-lo”, relatou.

No dia seguinte, Hien foi ao mercado popular de animais de Ho Chi Minh, e vendedores localizaram seu animal de estimação rapidamente após dizer a raça e a parte da cidade em que foi capturada.

“Eles estão associados com os sequestradores, levam todos os animais ao mesmo mercado”, protesta o vietnamita.

Após uma tensa negociação, Hien pagou US$ 250 e levou sua cadela novamente para casa, mas a felicidade não durou muito tempo.

“Três meses depois, um dia deixei a Gina sair e me desliguei por um momento. Quando me dei conta, a cadela tinha desaparecido sem deixar rastro”, lembra.

Ciente de que os criminosos sabiam que estava disposta a pagar, ela pensou que negociaria melhor se deixasse passar dois dias antes de comparecer ao mercado de animais.

“Foi um risco alto demais e não voltei a vê-la de novo. Já não quero nem olhar suas fotos, me dão vontade de chorar. Pelo menos sei que por ser uma cadela de raça e de pequeno tamanho, seria revendida como animal de estimação e não como carne para os restaurantes”, se consola.

Hien nunca pensou em comparecer à polícia “porque seria inútil”, uma opinião que não é compartilhada por Nghia.

“É certo que a polícia não leva a sério estes crimes, dizem que têm outras coisas para fazer, mas se todas as vítimas denunciassem toda vez que ocorre um sequestro, talvez mudassem sua atitude”, afirmou Nghia.

Ela atribui a permisividade policial à falta de sensibilidade da maior parte dos vietnamitas no tratamento dos animais.

“Eles consideram como algo sujo porque estão acostumados a vê-los nas ruas. As crianças se acostumam desde pequenas a bater nos cachorros porque é o que veem seus pais fazerem”, explica o especialista.

Nghia adverte que nem sempre foi assim e lembra que em várias cidades do norte do Vietnã os moradores se aliaram há alguns anos para dar fim aos sequestradores de cachorros.

“No norte, os capturam (os cães) sobretudo para comê-los. É um costume que o povo com dinheiro, mas sem educação, tem. Acham que trará sorte ou que melhorará a potência sexual”, diz o veterinário.

Nghia acredita que a única maneira de solucionar o problema a longo prazo é mudar a mentalidade dos menores e para isso, tenta dar palestras nas escolas, mas a missão não é simples.

“Só posso ir aos colégios internacionais, porque nunca me deixariam fazer isso em escolas vietnamitas. Se me virem entrar com um animal, me expulsariam”, lamentou. EFE