Por que peixe-elétrico dá choque?

A eletricidade do peixe-elétrico serve para protegê-lo de ataques de predadores, para capturar presas e ainda orientá-lo no escuro. Da mesma forma que os morcegos usam as ondas sonoras, este tipo de peixe utiliza a eletricidade para ‘enxergar’. Eles emitem ondas elétricas para o meio ambiente que as manda de volta. Receptores na pele do peixe levam as ondas por terminações nervosas ao cérebro, que a traduz.

Poraquê ou peixe-elétrico – Foto: Iberê Thenório/Globo Amazônia/Ilustração/Divulgação

Isso é possível porque o peixe-elétrico possui células musculares modificadas que produzem impulsos elétricos, chamadas de eletrócitos. Qualquer movimento muscular gera energia. Acontece que, no caso destes animais, parte da eletricidade não é gasta no movimento do seu corpo, ficando armazenada nos tais eletrócitos. Daí o contato ou apenas a proximidade com eles gera grande descarga elétrica.

Pode matar?
A intensidade do choque varia de acordo com a espécie. No Brasil, existe o poraquê ou peixe-elétrico da Amazônia. Ele habita águas turvas e fundos lodosos da Bacia Amazônica, mas também ocorre no Mato Grosso e em outras regiões da América do Sul.

O nome poraquê vem da língua Tupi e significa ‘colocar pra dormir’. O choque de 500 volts pode matar animais grandes e até um ser humano, que ‘frita’ na hora se segurar o bicho pela cabeça e pé ao mesmo tempo. Para se ter uma ideia, a tensão de um chuveiro elétrico tem em média 220 volts.

As outras espécies de peixe-elétrico produzem choques em uma intensidade bem menor, incapaz de matar uma pessoa. A descarga não afeta o próprio animal, já que o campo elétrico fica ao redor do corpo do peixe. Mas isso não quer dizer que ele não possa levar um choque de outro peixe-elétrico.

Aquáticos e perigosos
Além dos peixes-elétricos, há outros animais aquáticos que possuem venenos, ferrões e outras formas de ataque e defesa. No Brasil, os mais perigosos são o bagre, que vive em rios, e o peixe-escorpião, que mora nos mares. As duas espécies são venenosas e possuem espinhos.

O bagre causa mais problemas por ser comestível e os pescadores acabam se machucando mais. O veneno causa muita dor e feridas na pele. Já o peixe-escorpião é capaz até de levar à morte, porque o veneno do animal vai direto para o coração, pulmões e rins.

Já as arraias, comuns nos mares e rios, têm um ferrão na cauda capaz de provocar hemorragias e necroses (morte da pele). O apresentador Steve Irwin, conhecido como caçador de crocodilos, morreu em 2006 com uma ferroada no tórax enquanto filmava um documentário.

Saiba Mais
Peixe-elefante: Podem ser encontrados em rios, lagos e pântanos africanos. Eles possuem órgãos elétricos situados no final da cauda. O campo elétrico funciona como radar e os pulsos elétricos são utilizados para demarcar território e cortejar as fêmeas.

Raia-torpedo: Habita toda a costa brasileira e vive em águas rasas. Neste caso, a descarga elétrica é uma simples reação involuntária de reflexo. Ela pode produzir 2.500 watts de potência (as lâmpadas de casa tem algo em torno de 60 watts).

Ruan Reveriego Silva, 10 anos, de São Caetano, acha que o peixe-elétrico possui alguma fonte de energia dentro dele. “Eu nunca vi esse peixe. Deve ser bem grande e parecido com o peixe-espada”, diz. O menino, também gostaria de poder ligar o videogame no animal. “Se ele tem eletricidade, a televisão e outras coisas irão funcionar.”

Consultoria de Silvia Roselli Napoleão, da Universidade Estadual Paulista – Jaboticabal; de Michel Donato Gianeti, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo; e de João Paulo Capretz Batista da Silva, biólogo da Universidade de São Paulo.