A Leishmaniose

leishmanioseA leishmaniose tem sido centro de muitas discussões, por ser uma zoonose com grande impacto para a Saúde Pública e pelo aumento de número de casos registrados em cães e humanos nos últimos anos.

A doença é considerada reemergente e encontra-se em plena expansão. Não é mais de caráter exclusivamente rural, pois o crescimento desordenado das cidades, tem resultado em um processo de urbanização da doença. O convívio, cada vez mais estreito entre homem e reservatórios (como os cães) e a destruição do meio ambiente, aliados ao aumento da quantidade do vetor (o mosquito), têm sido apontados como principais e determinantes promotores das condições adequadas para ocorrência da doença na área urbana.

E o caráter disseminador da doença faz com cães bem cuidados e bem alimentados não estejam imunes ao contágio e desenvolvimento da doença.

É uma doença endêmica que ocorre em vários continentes. A estimativa mundial de humanos infectados é de 12 milhões e cerca de 1,5 a 2 milhões de novos casos por ano. Caso não haja o tratamento precoce, a letalidade em humanos é alta. Nas Américas, o Brasil é o país mais afetado, com cerca de 90% dos casos. Presente em 19 dos 27 estados brasileiros, a doença atinge quatro das cinco regiões geográficas do país. Sua maior incidência é no Nordeste, com 92% do total das notificações, seguido pelas regiões Sudeste (4%), Norte (3%) e centro Oeste (1%). Estes dados estão associados às precárias condições socioeconômicas da população, evidenciadas em locais de maior incidência.

CICLO DA DOENÇA

Caracterizada por lesões na pele (leishmaniose tegumentar) ou envolvimento visceral generalizado (leishmaniose visceral), a Leishmaniose é considerada a segunda principal doença causada por protozoário, perdendo somente para a Malária em incidência e é considerada a quinta maior endemia mundial, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Mais conhecida como “calazar”, a leishmaniose visceral, tem causado grande polêmica, pela sua alta incidência, gravidade, letalidade e implicações econômicas.

Os vetores que transmitem a Leishmaniose visceral são os mosquitos denominados de flebotomos, conhecidos também como mosquito palha, birigui ou tatuquiras.

São pequenos mosquitos de 1 a 3 mm de comprimento, de coloração clara e facilmente reconhecidos pelo seu comportamento de voar em pequenos saltos e pousar com as asas entreabertas. Existem maiores concentrações em regiões tropicais, encontram-se em locais sombreados ao redor das residências (galinheiro, chiqueiro, canil, lixeiras, etc) e também no seu interior.

Somente as fêmeas têm hábitos hematófagos e atuam no período crepuscular (ao nascer do sol)!

A transmissão se dá através das picadas para reservatórios como cães, gambás, raposas, ratos e o homem. O cão tem suma importância na transmissão da leishmaniose no ambiente urbano, por isso é considerado o principal reservatório da doença. Estima-se que, para cada caso no homem, exista em média 200 cães infectados. A relação dos felinos com a doença ainda está sendo pesquisada.

Muito tem sido feito para que se consiga interromper a cadeia de transmissão. A base para um controle eficiente é conhecer o ciclo da doença e os hábitos do vetor. No caso de doenças que dependem de um vetor e de animais que atuam como reservatórios, a ação deve ser direcionada a um desses pontos.

O ideal seria evitar o acesso do mosquito aos reservatórios da doença. Porém, medidas simples como destinação adequada de lixo e dejetos, o uso de inseticidas e telas, embora teoricamente efetivas, são utópicas quando se trata da colaboração de toda uma população! Além disso, o ciclo do mosquito transmissor é difícil de ser controlado, uma vez que precisa apenas de matéria orgânica para dar continuidade.

DIAGNÓSTICO E PREVENÇÃO

Existem os indivíduos oligo-sintomáticos (que apresentam poucos sintomas), os poli-sintomáticos (que apresentam muitos sintomas) e os assintomáticos (ausência de sinais ou sintomas). Estes últimos, que são portadores do protozoário, mas não desenvolvem a doença, são os que mais representam riscos em questão de saúde pública, uma vez que estão acima de qualquer suspeita e estão eventualmente ‘contribuindo’ com a transmissão da doença.

Os assintomáticos podem levar de 1 mês até 4 anos, após a picada do flebótomo, até que apareçam os sintomas, o que depende da imunocompetência do hospedeiro. Estão representados em cerca de 20 a 40% de uma população soropositiva. Isso faz com que existam inúmeros cães portadores da doença sem apresentar sintomas, representando uma fonte de infecção para outros cães e seres humanos, e nos quais a leishmaniose acabará se manifestando.

Os sintomas incluem: alterações de baço e fígado, emagrecimento, hemorragias, diarréia, aumento significante do tamanho das unhas, alterações oculares e articulares, anemia, febre, vômitos, apatia, nódulos subcutâneos (pequenos ou grandes) e erosões ( mais freqüentes na ponta da orelha e nariz), caquexia e úlceras na pele, entre outros.

Todos estes sintomas não aparecem sempre juntos ou no mesmo momento. Mas, quando estão presentes, o prognóstico é a morte do animal, que pode ocorrer a curto ou a longo prazo.

A confirmação do diagnóstico só pode ser feita por um médico veterinário, que através da suspeita, vai realizar os exames laboratoriais necessários.

A medida de controle que tem sido considerada pelas entidades competentes é bastante polêmica: a eutanásia de animais infectados. Além de não ser aceita pela sociedade, também é controversa, uma vez que alguns estudos não demonstram relação entre o sacrifício de animais e a diminuição do número de casos.

O tratamento de cães existe, mas é polêmico. Torna-se bastante difícil, pois a doença mostra-se mais resistente à terapia neste animal do que em humanos. Cogitou-se a liberação do tratamento com a exigência de que os cães fossem rigorosamente acompanhados por um médico veterinário e contassem com a colaboração do proprietário para que evitasse a propagação da doença.

O ideal seria impedir o contato de um indivíduo positivo com o mosquito, para que se interrompesse a transmissão da doença. Porém, mais uma vez, essa não é tarefa fácil, em se tratando de milhões de animais positivos!

Enquanto isso, o ideal é a prevenção! Evitar passeios com o seu peludo na hora de atuação do mosquito e, caso seja inevitável, protejer o animal contra as picadas do flebótomo utilizando-se de inseticidas tópicos ou repelentes naturais (atenção: só utilize produtos indicados pelo vet!!) em loções ou incorporados em coleiras e com longo período de ação, associada a imunoprofilaxicia através do esquema de vacinação, agora liberado em algumas cidades como São Paulo, por exemplo. Se você não reside em São Paulo, consulte o seu vet e verifique a liberação da vacina em sua cidade.

No ambiente, uso de inseticidas e telas nas residências e nos seus arredores, manter o ambiente peri-domiciliar sempre limpo e livre de dejetos, são medidas eficientes! É importante lembrar que nós também devemos nos preocupar com a leishmaniose, e devemos colaborar com todas as medidas necessárias para que a doença seja controlada.
Texto elaborado em parceria entre Portal Turismo 4 Patas e Dra. Camila Brandão (CRMV 23.400)