Afeto e companheirismo marcam o convívio de animais com deficiências e seus donos

O cão Toquinho viveu uma série de traumas. Apanhou de um cachorro maior, foi abandonado pela sua antiga família e perdeu a visão, além de outras complicações de saúde.

Em recuperação em uma clínica, o próximo desafio para Toquinho seria arranjar um novo lar. Mas animais com deficiência costumam ser rejeitados e abandonados, dizem os veterinários e protetores animais. “Me dói profundamente, mas o preconceito existe”, afirma a veterinária Vilma dos Santos Fahed, do Hospital do Animal.

Felizmente, Toquinho teve uma nova chance. A psicóloga Anita Pacheco, 30 anos, foi ontem até a clínica veterinária conhecer seu novo amigo. “O que me chamou atenção foi ele ser cego”, revela Anita. “Eu pensei, ‘poxa, ninguém vai querer adotar porque dá trabalho, então eu vou tentar’”.

Dá trabalho?
O trabalho que Toquinho dará a Anita é minímo. Segundo Vilma, basta deixar as coisas no lugar, dentro de casa, para o cachorrinho se acostumar e não sair esbarrando nos móveis.
Anita está animada e também preparada para qualquer dificuldade. “Na minha família tivemos um Pastor Alemão que viveu 16 anos e estava com problemas nas patas e câncer, precisava de muitos cuidados”, conta. “Então isso eu aprendi com meus pais, a ser mais sensível com os animais”.

Desafios existem
Na casa da servidora pública Flaviana Caldeira, 38 anos, vivem dois cachorros com deficiência. “O Minhoco não tem duas patas e a Belinha só tem três”, explica a dona. Os cuidados com cada um é especial e exige esforços diferentes.

Por conta de uma fratura na coluna, o cão Minhoco perdeu a sensibilidade de alguns músculos. “Ele faz xixi pela casa, não controla mais”, relata Flaviana. Foram meses de tratamento e ajuda profissional. “Hoje ele está estabilizado”. A atenção com o pequeno é constante. “Não é qualquer pessoa que faria o que eu faço”, pontua.

Toda a dedicação e investimento são pagos com gratidão não-humana, segundo explica Flaviana. “Quando chego, da calçada já escuto ele gritando de felicidade. Eu vejo tudo nos olhos dele. É uma gratidão muito maior que a do ser humano”.

Tanto Minhoco quanto Belinha tem cadeirinha de rodas, que usam para correr e passear na rua com a dona. Em casa, os dois cachorrinhos se viram bem sem as rodinhas.

A média do valor de uma boa cadeira para cães é R$ 300. Mas é possível conseguir ajuda por meio de doações e auxílio de ONGs.

Como qualquer outro
Belinha perdeu a pata ainda filhote e, ao contrário de Minhoco, não sofreu fratura na coluna ou qualquer outra complicação mais grave. A vida da cadelinha é normal. “Ela não depende tanto, é um animal como qualquer outro”, descreve Flaviana.

De acordo com a veterinária Vilma, o cachorro e gato não sentem tanto a condição de ter uma deficiência física. “Eles não tem aquela consciência psicológica que a gente tem da questão da estética e limitação”, argumenta a especialisa. “Então você dando atenção, carinho e proporcionando um ambiente próprio, eles vão ser felizes normalmente”, conclui.

Autor: Eduardo Fregatto
Fonte: Correio do Estado