Bons modos até para eles

Ele é companheiro fiel, adora brincar com os donos, abana o rabo quando vê a família voltar para casa e protege seu reduto quando percebe alguma ameaça.

É educado e se comporta com classe em qualquer ambiente.

Não faz xixi dentro de casa e não late demasiadamente. O pequeno Enzo, um schnauzer de um ano e três meses, é tudo o que um proprietário espera de um cão. Mas para atingir este grau de educação, recebeu lições desde os primeiros meses de vida.

Os limites foram determinados logo no primeiro contato com a família e repetidos durante muito tempo até que fossem absorvidos pelo animal. As boas maneiras, no entanto, não estão ao alcance apenas de donos de filhotes. Animais mais velhos também podem aprender a se comportar bem.

[quote]“O adestramento leva, em média, de quatro a cinco meses”, afirma a adestradora Maíce Costa Carvalho.[/quote]

Mas antes de contratar aulas para adestramento, os donos de animais devem saber que, assim como os filhos, os cães também repetem o comportamento dos “pais”. Assim, se o dono for nervoso, agitado ou áspero, não deve esperar que o cachorro reaja com educação e tranquilidade. “O cão é o reflexo da família que o acolhe”, explica o especialista em comportamento animal Arthur Mariano Celestino Neto, 36.

Todos os animais, independente da raça, podem ser domados, desde que o proprietário tenha paciência e dedicação, já que os resultados só são alcançados após sucessivas aulas para treinamento. Outra dica importante é mostrar para o cachorro quem é o líder da casa, impondo respeito e limites ao animal.

Teca, uma boxer de seis anos, é exemplo de um animal comportado. “Aqui em casa, é todo mundo tranquilo”, diz Marina Rúbia Mendonça Lôbo, 24, bacharel em Direito, uma das donas do animal. Criada dentro da residência, Teca faz as necessidades em local específico, no quintal, e sabe se conter diante de um simples olhar de reprovação. “Quando dormimos até tarde, e quer fazer xixi ou cocô, vai até o quarto e chama alguém para abrir a porta”, explica Marina. Para alcançar esse nível de respeito com o animal, a família não poupou carinho e ensinou limites desde cedo. “Desde pequenina, meu tio foi ensinando ela a pedir. Hoje, ela dá a patinha e pede direitinho”, conta orgulhosa.

Prova de que o animal absorve os hábitos da família é o comportamento de Teca no seu reduto. Descendente de italianos, a família de Marina costuma se reunir em um único cômodo da casa, seja para comer ou conversar. Como uma filha, a cadela não fica de fora. “Ela quer participar de tudo, nem que seja dormindo”, diz o segundo dono do animal, Benjamin Lôbo Neto, 21. Na rua, a boxer também se comporta muito bem, não avança em pessoas e animais e quase não late. “A Teca nunca me passou vergonha em lugar algum”, completa Marina.

O veterinário Arthur Celestino acredita que o cachorro bem- educado é aquele que cresce cercado por regras, mas também por carinho. O ideal é que as demonstrações de afeto ou gratificações representem uma espécie de prêmio àquilo que o animal faz de correto. Caso o animal necessite de cuidados médicos, o conselho é que a família participe de todas as visitas ao veterinário, já que algumas enfermidades possuem relação com o tratamento que este recebe e o ambiente em que vive. “Se o grupo optou por ter um animal, precisa estar disposto a participar”, explica.

Sendo assim, o tipo de relacionamento do dono com o cão é o que vai determinar as maneiras como este reage a diversas situações, em casa ou na rua. O schnauzer Enzo, por exemplo, aprendeu a fazer as necessidades fora de casa depois que as donas passaram a entender seus sinais de desconforto dentro do apartamento. Aprender a decifrar as formas de comunicação do animal é um dos meios mais eficazes na construção de uma relação de confiança e respeito. Ao entender o que o cão deseja, o dono evita que ele use o latido como único artifício para chamar a atenção e acabe incomodando as pessoas ao redor.

O ideal é que as primeiras regras de comportamento sejam ensinadas logo na aquisição do animal. Os filhotes começam a absorver os limites e comandos a partir do terceiro ou quarto mês, o melhor período para o treinamento.

“Meninas” supercomportadas
A pequena Nina, uma poodle de 10 anos, é uma verdadeira lady. Mesmo sendo de uma raça considerada inquieta e temperamental, a cadela é muito obediente e acompanha a dona, a psicóloga Fátima Cunha Guimarães, 47, em quase todos os lugares. O comportamento tranquilo foi adquirido na convivência com a dona, também considerada uma pessoa serena. Até os latidos, marca registrada dos poodles, quase não são ouvidos no apartamento onde ambas vivem, no Setor Aeroporto, Goiânia. Isso garante uma boa relação com os vizinhos do condomínio.

Nina é considerada uma cadela supereducada. “Quando a adquiri, ela já era obediente, mas o temperamento foi se definindo com o passar dos anos”, explica Fátima, que leva o animal para caminhar até três vezes ao dia. Quando saem para passear, leva saquinhos plásticos para recolher as fezes da mascote. “Se quero um animal educado, tenho de ser educada também”, pondera.

A professora Aurélia Garcia, 29, é outro exemplo de “mãe” dedicada.

Todos os dias leva Luna, uma pit bull de 7 anos, e Ela, uma vira-latas de 3 anos, para uma volta no parque. Coruja, a educadora diz que as “meninas” se comportam bem em qualquer lugar. “Basta uma palavra para elas obedecerem”, conta ela, que mora sozinha com os animais em uma casa no Setor Nova Suíça, na Capital. Nem mesmo o instinto violento atribuído aos pit bulls é mais decisivo do que as palavras da dona.

[quote align=’left’]“Uma vez, Luna imobilizou o cão do vizinho, mas na primeira vez que pedi para soltar, ela obedeceu”, comenta.[/quote]

Para a adestradora Maíce Costa, o problema dos cães desobedientes é que, muitas vezes, os donos humanizam o animal, atribuindo a ele sentimentos típicos dos humanos, e não dos caninos. Esta confusão faz com que os proprietários se tornem os principais culpados pelo mau comportamento dos animais. Na maioria das vezes, essa culpa se dá muito mais por desconhecimento do que simplesmente por negligência. “Ninguém quer um cão mal-educado, muito pelo contrário”, diz ela.

Treinamento profissional
Canil Caraíbas – Tel.: (62) 3536-5429 / Rod GO-462, Zona Rural, Goiânia – GO: para cães a partir do sexto mês, todas as raças. R$ 465 no canil (todos os dias) ou R$ 350 em domicílio (duas vezes por semana)

Dog Defender Adestramento e Hotel Para Cães – Tel.: (62) 3256-2744 / Av. C-7, s/n Qd 78A, Setor Sudoeste, Goiânia – GO: para cães a partir do quinto mês, todas as raças. R$ 200 em domicílio (três vezes por semana)

Educação começa no berço
Há pessoas que preferem animais de estimação espontâneos. Mas um pouco de bons modos nunca é demais. Veja algumas dicas para seu bichinho não criar inconvenientes para os outros, seja em casa, na rua ou no condomínio.

Sempre há tempo
Regras de convivência são possíveis tanto para filhote como para adulto. Sempre há tempo de educá-lo para que se torne um companheiro dócil e adorável. No entanto, lembre-se: ao invés da dominação pelo medo, essa educação se baseia no respeito mútuo.

O que eles podem aprender?
Um cachorro pode aprender várias coisas, algumas muito surpreendentes.
Mas o que você deseja é que ele aprenda alguns comandos simples para organizar sua convivência. Estabeleça horários para as coisas mais importantes, como as refeições, por exemplo. É impressionante como eles incorporam as rotinas, deixando tudo mais rápido e simples.

Xixi e cocô no lugar certo
O cão costuma dar “sinais” de que está prestes a fazer xixi ou cocô.
Geralmente, ele começa a cheirar uma área do chão, anda em círculos e se agacha. Nesse momento, você precisa pegá-lo no colo e levá-lo até o local que escolheu para esse fim. Depois que ele fizer as necessidades no local certo, faça festa pra ele, sorria, dê petiscos. Assim, o animal perceberá o quanto ficou feliz em vê-lo usar a área correta.

Evitando o barulho
Por incrível que pareça, os donos que menos gostam de latidos são os que mais rapidamente ensinam o cão a latir para tudo. Isso porque, para fazê-lo parar de latir, lhe dão exatamente o que ele quer. E o cão logo percebe que basta latir para ter o que deseja. O ideal é que estimule o seu cão a usar outros sinais para manifestar as vontades. Para tanto, passe a atender os sinais alternativos usados pelo cão, aos quais você não dava atenção.

Como se portar em diferentes ambientes

Em praças e parques
Ao sair para passear, leve o cão sempre com coleira e preso à corda para evitar que ele atravesse a rua sozinho, correndo o risco de ser atropelado, ou que fuja atrás de outro animal. Recolha as fezes do animal, caso ele defeque em áreas públicas: isso é mais que uma regra, é uma questão de bom senso, etiqueta e higiene. Lembre-se de manter a vacinação em dia, e também sua higiene, evitando pulgas e outros contratempos.

Prédios e condomínios
Em condomínios, estamos muito mais próximos uns dos outros, e utilizamos as mesmas dependências. Muitas vezes, é preciso adestrar cães especificamente para viver em prédios. Este é um gesto de carinho com seu bicho, para facilitar a vida dele – e a de todos. Se seu animal de estimação incomoda com ruídos os seus vizinhos, é preciso pensar em como solucionar esse problema, e não deixar que ele se agrave.

Bares, supermercados ou padarias
Bares e supermercados que seguem normas de segurança e higiene não permitem a entrada de animais em hipótese alguma. A decisão é resposta à determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Código de Posturas do Município. Alguns estabelecimentos, no entanto, optaram por criar espaços externos para que os donos deixem os animais.

Shoppings
Em Goiânia, apenas cães de pequeno porte, que podem ser carregados no colo, têm permissão para adentrar no recinto dos centros comerciais. A permanência do animal, no entanto, fica proibida em áreas de alimentação. Aqui, continua valendo a regra da Anvisa de proibir acesso de animais a qualquer estabelecimento relacionado à alimentação.