Superpopulação de gatos preocupa

Eles estão por toda a parte: no meio da rua, no Parque da Cidade e até na sala de aula da universidade. Às vezes sozinho, outras em bando. O fato é que a superpopulação de gatos – são mais de 37 mil gatos domésticos segundo o Censo do IBGE – preocupa não só as autoridades sanitárias, mas também a população, que tem que conviver com os felinos.

Uma audiência pública, realizada na manhã de ontem, na Câmara dos Vereadores, discutiu as consequências a saúde e formas de combater a superpopulação de gatos. A maior preocupação das autoridades sanitárias é com relação ao abandono desses felinos e os problemas de saúde.

“A nossa dificuldade é com relação aos gatos vadios. Infelizmente, o Centro de Zoonoses não tem estrutura para recolher todos eles das ruas. A cada dia esse número aumenta mais porque as pessoas abandonam os gatos em vários pontos da cidade”, disse o diretor do Centro de Zoonoses, Diógenes Soares da Silva.

No que diz respeito à saúde pública, a maior preocupação está ligada à transmissão da raiva e não da toxoplasmose. “O maior risco é com a raiva – que tem 99,9% de letalidade. No caso da toxoplasmose, o contato direto com os gatos não provoca a doença. É o contato com as fezes do animal, que pode provocar a doença. O contato direto com o gato, não provoca nenhum risco”, disse Diógenes Soares da Silva.

Uma das soluções discutidas na audiência pública seria a castração ou esterilização dos animais de ruas, para evitar a reprodução descontrolada dos gatos. A presidente da Associação de Proteção aos Animais (Amimais), Liana Monteiro, explicou que os animais estão sendo criminalizados. “Recomendamos um mutirão de esterilização, no entanto é preciso uma estrutura organizada para isso”, relata. Ela também alertou para a importância da educação ambiental nas escolas.

O CZ, tem um projeto para ampliação das suas instalações e assim poder recolher e cuidar desses animais de rua, mas esbarra na burocracia. “Estamos esperando a aprovação do projeto e liberação da verba para dar início às obras. Espero que seja o mais rápido possível”, disse o diretor do CZ.

O abandono de animais é um hábito tão frequente que já existem pontos estratégicos. Entre eles, a avenida Engenheiro Roberto Freire, a UFRN, o Parque da Cidade e o Parque das Dunas. Nesses dois últimos, tem ainda os riscos para o meio ambiente, já que os gatos destroem espécies da vegetação local.

O município não tem dados exatos da quantidade de gatos abandonados, mas acredita-se que são centenas de animais em cada um desses pontos. Para se ter ideia, uma contagem da divisão de meio ambiente da Superintendência de Infraestrtura da UFRN, mostrou que há cerca de 300 felinos circulando pela instituição.

A maioria deles se concentra no Setor de Aula I -onde tem várias lanchonetes – e próximo ao Laboratório de Comunicação. “Eles causam um prejuízo grande para a gente que trabalha com comida. Temos que ter todo cuidado para afastá-los dos alimentos e assim evitar a contaminação deles. Há mais de 20 anos tenho uma lanchonete no Setor I e sofro com esse problema”, disse Cleonice de Oliveira Silva.

Alguns gatos são mais ‘atrevidos’ e usam as salas de aula como abrigo. “Acho super errado essas pessoas que vêm aqui alimentar os gatos. Isso só faz aumentar a quantidade desses bichos pela universidade. Dia desses tinha um na sala de aula, muito concentrado prestando atenção no professor”, disse a estudante do curso de rádio e TV, Jamaika Lima.

Para tentar inibir o abandono de gatos na UFRN, a Superintendência de Infraestrutura da instituição reforçou a vigilância no Campus, além de contar com a colaboração das câmeras de monitoramento. “Estamos tomando atitudes para evitar a proliferação dos gatos no Campus, mas a universidade não tem verba específica para isso e nem possui um curso de veterinária para ajudar no cuidado desses animais, Contamos com a colaboração da comunidade”, disse a engenheira da divisão de meio ambiente da UFRN, Marjorie Medeiros.

Especialistas pedem para não alimentar animais na rua

Outro problema apresentado na audiência pública diz respeito às pessoas que alimentam os gatos de rua. Essa ação gera um ciclo vicioso, que só faz aumentar o número de gatos abandonados, já que muita gente deixa os bichos na rua porque sabe que tem quem os alimente.

A professora da UFRN, Nadja Cardoso é contra a proibição de alimentar os gatos de rua. Há 30 anos ela alimenta diversos gatos em vários pontos de Natal. Por mês ela compra, em média, 60 kg de ração, 30 litros de leite e 30 kg de carne. “Se eu não alimentá-los eles vão morrer de fome e isso não é justo. O poder público deveria se preocupar com os gatunos da política e não com quem alimenta os gatos. Se existisse um cuidado com esses bichos abandonados eu não precisaria dar comida a eles. Mas enquanto não tiver uma atenção a esses bichos, vou continuar alimentando-os”, disse a professora.

Para a promotora Elaine Cardoso, que atua na defesa da saúde, “se alguma pessoa gosta de animais e se preocupa em cuidar deles, a melhor alternativa é adotar um animal e não apenas colocar comida na rua; pois esses gatos, apesar de alimentados, continuam sem cuidados veterinários, sem vacinas e sem controle sanitário”.

A veterinária Fabíola Medeiros, da ONG Amimais, afirmou que melhor do que distribuir alimentação para os gatos, é achar um dono para eles. “Na semana passada encontramos uma gata em trabalho de parto abandonada na rua. Infelizmente, os filhotes não sobreviveram, mas a gata está bem e já tem um novo dono”, disse a veterinária.

Outra proposta da ONG Animais é a implantação de chips nos felinos que passarem pelo Centro de Zoonoses para que os donos sejam encontrados e punidos, no caso de abandono. “Mas esbarramos na questão da lentidão do poder público, que ainda não estruturou o CZ. Diferente do que acontece em outros Estados, onde é oferecido atendimento aos animais carentes” disse Fabíola Medeiros.

A promotora de Justiça, Rossana Sudário, ressaltou a necessidade de uma campanha informativa nos veículos de comunicação. “Através de verba publicitária podemos informar e educar a população quanto aos riscos. Vivemos em sociedade e precisamos saber que nossas ações provocam resultados”, disse Rossana Sudário.

Fonte: Tribuna do Norte