Tudo o que você precisa saber sobre castração de gatos machos e fêmeas

Hoje em dia a maioria dos gatos que regularmente frequentam as clinicas veterinárias são castrados e de ano em ano observa-se que este número tem aumentado.

Dos atendimentos de uma clínica veterinária, a castração de gatos é considerada a segunda razão mais freqüente pela qual um proprietário vem consultar o veterinário, perdendo apenas para a vacinação.

Por se tratar de um assunto polêmico que gera muitas dúvidas a respeito, primeiramente abordaremos alguns aspectos reprodutivos dos felinos domésticos e depois sobre a importância da castração propriamente dita. Obviamente tudo será de forma superficial devido à complexidade do assunto, mas procuraremos torná-lo de alguma forma proveitoso para aqueles que ainda não estão familiarizados ou apresentem alguma dúvida.

Nos gatos machos os testículos produzem espermatozóides e o hormônio sexual masculino. Eles são responsáveis pela manutenção das características físicas e anatômicas singulares aos machos e também pelo comportamento sexual masculino, dentre eles a hierarquia social junto a outros gatos, a marcação de território, o interesse sexual, a agressividade, etc.

Sabe-se que a marcação pela urina nos machos está ligada diretamente à atividade sexual, ou seja, o gato tem por hábito espalhar a urina nas superfícies verticais para marcar o ambiente onde freqüenta. O forte odor da urina que ali se impregna tem a função de mostrar que neste território tem um gato macho e sinaliza sua presença para outros machos das redondezas que convivem neste mesmo ambiente.

Nas fêmeas, os ovários produzem os óvulos e os hormônios sexuais responsáveis pelo cio. O período do cio dura na gata aproximadamente de 4 a 10 dias e é aquela fase em que ela está ovulando e fica receptiva ao macho. É comum se observar a presença de uma postura típica da fêmea muito conhecida para os criadores em que ela se mantém arqueada, principalmente quando se passa a mão no seu dorso. Nesta fase ela também produz aqueles miados altos característicos, para a infelicidade da vizinhança durante o dia e a noite. Na ausência do macho, o cio tende a ser mais longo, podendo se prolongar por mais de uma semana. O acasalamento ativa a ovulação e interrompe o cio. A ovulação ocorre de 24 a 36hs após a cópula.

Após um período de descanso sexual, período este que pode ser influenciado por vários fatores, tais como raça, idade, tipo de alimentação, etc., um novo ciclo se inicia na gata, repetindo o mesmo processo várias vezes durante o ano, em média três vezes por ano.

Durante o acasalamento, a fertilização dos óvulos ocorre nos tubos uterinosquando os espermatozóides expelidos pelo macho encontram o óvulo produzido pela fêmea.

A gestação de uma gata varia entre 56 a 65 dias e o número de filhotes por ninhada de 2 a 8, dependendo da raça e outros fatores.

O termo castração, usado muitas vezes como sinônimo de esterilização, se aplica a ambos os sexos. Castração, entretanto, tanto dos gatos machos como nas fêmeas, refere-se especificamente a uma cirurgia que previne a reprodução. Já a esterilização pode abranger a castração propriamente dita e outras formas de se evitar a reprodução.

No caso dos gatos machos, a castração corresponde ao procedimento cirúrgico denominado tecnicamente de orquiectomia, no qual os testículos são removidos. Os gatos castrados tornam-se estéreis e param de mostrar o comportamento sexual.

Nas fêmeas a cirurgia de castração é mais invasiva, pois tanto os ovários, como as trompas e o útero são removidos e este procedimento denomina-se de ovariosalpingohisterectomia. As gatas castradas ficam também esterilizadas e não mais apresentam cio e interesse sexual.

No caso das fêmeas existe outro tipo de castração, conhecida como laqueadura ou ligação das trompas de falópio, cirurgia esta que a consideramos de pouco interesse prático, pois embora a gata se torne estéril, portanto sem a capacidade reprodutiva, ainda apresentará o cio e todos os seus inconvenientes.

Outro tipo de esterilização das gatas, mas neste caso de forma temporária, consiste na administração de hormônios que bloqueiam o ciclo sexual. Neste caso a gata fica estéril pelo período em que o anticoncepcional utilizado atua, voltando a apresentar o cio, e inclusive a possibilidade de ser fértil, no próximo ciclo. Também não recomendamos este tipo de esterilização, a não ser em ocasiões muito especiais, isto porque apresenta uma série de inconvenientes, dentre eles principalmente o risco de se induzir a infecções uterinas graves e a necessidade de cirurgias de emergência.

Os proprietários de gatos muitas vezes tentam evitar o acasalamento acidental modificando o seu manejo de rotina, quer procurando confinar os animais, quer mantendo-os separados. Entretanto, no caso da espécie felina doméstica isto é muito difícil, porque o cio das gatas tende a ser mais discreto do que nas cadelas, ou seja, o dono muitas vezes não consegue perceber que a gata está na fase fértil. Além disso, os gatos são animais de difícil confinamento nos quintais e chácaras, devido à facilidade que apresentam em escalar muros e alambrados. Portanto, quando o dono percebe, a gata já está fertilizada e gestante. O que acaba acontecendo na prática é que esta primeira ninhada, embora inesperada, acaba sendo bem-vinda. Mas se futuramente não se programar uma esterilização, ou de forma mais definitiva uma castração, teremos o mesmo problema nos próximos cios.

A castração dos gatos de forma geral tem uma série de benefícios e vantagens, dentre eles podemos mencionar alguns deles, tais como:

1) redução da população de gatos soltos de vida livre, evitando-se os filhotes indesejados, os quais pelo fato de não serem cuidados adequadamente, acabarão vivendo em condições precárias e abandonados;

2) tendência dos gatos de ambos os sexos serem mais saudáveis e apresentarem mais qualidade de vida, com um conseqüente aumento de longevidade;

3) diminuição de focos de várias doenças contagiosas graves, algumas fatais transmitidas entre felinos, tais como a leucemia felina e a imunodeficiência felina. Redução de outras doenças comuns para mamíferos de forma geral, tais como as verminoses, por exemplo. Ainda a redução de algumas doenças transmissíveis dos felinos para os seres humanos, as chamadas zoonoses, tais como a raiva e a toxoplasmose, por exemplo;

4) a castração reduz o risco de acidentes porque os gatos de ambos os sexos ao sair de casa impelidos pelo instinto sexual, tendem a ficar fora de casa por vários dias e acabam não voltando mais devido a acidentes, atropelamentos ou mesmo envenenamentos.

5) a cirurgia de ovariosalpingohisterectomia acaba com os problemas dos miados e manifestações sexuais nas fêmeas;

6) fêmeas castradas eliminam os problemas de desordens genitais tais como partos distocicos, infecções uterinas (piometra), cistos ovarianos, tumores mamários, os quais nas gatas cerca de 90% tendem a ser malignos;

7) no caso dos gatos machos, a cirurgia de orquiectomia reduz sensivelmente a atividade de marcação territorial com urina (para a alegria dos donos!) e uma diminuição de miados e brigas entre gatos machos na disputa das fêmeas. Embora os hormônios masculinos não sejam totalmente responsáveis pela agressividade nos gatos, observa-se na prática que os machos castrados tendem a ser bem mais calmos e afetuosos.

É importante de se observar que os gatos castrados de ambos os sexos tendem a ser mais vulneráveis à obesidade e ao sedentarismo. Esta mudança de hábitos provocada pela castração pode propiciar o aparecimento de algumas doenças, tais como: problemas osteoarticulares, diabete, cálculos urinários e problemas digestivos, como por exemplo, a formação de bolas de pelos no trato digestivo, devido à redução de movimentos.

A maioria destas desordens observadas, por outro lado, pode ser eficazmente prevenida através de uma correção da dieta e de um ambiente adequado de vida que estimule o instinto natural de predação dos felinos, se escondendo, espreitando e simulando pular sobre a presa. Atualmente diversos brinquedos estão disponíveis no mercado que estimulam a movimentação dos gatos, brinquedos estes que emitem sons, bolas de vários formatos, acessórios para subir, arranhar, etc.

Recomendamos para aqueles proprietários que tenham gatos e que não pretendam que eles procriem, que seja urgentemente programada uma castração. Quanto mais cedo possível se optar pela castração, mais qualidade de vida o animal apresentará futuramente.

Embora dependa de anestesia geral e de um pós-operatório adequado, tanto a orquiectomia para os machos quanto a ovariosalpingohisterectomia para as fêmeas, são procedimentos cirúrgicos relativamente simples de serem realizados. Estamos à disposição para orientações. Observamos, em nossos atendimentos clínicos rotineiros, que é muito raro um felino doméstico chegar à velhice quando não castrado.