Abandono de animais cresce durante o período das férias

Rio Grande do Sul – Este verão vai ser de muito trabalho na residência de Olga Maria Lenz Souza, em Candelária. Enquanto grande parte das pessoas passeia, ela toma conta de quase 150 cães e gatos. O número tende a crescer ainda mais no período de férias: o índice de abandonos entre o Natal e o mês de março aumenta em cerca de 30% se comparado ao resto do ano. Olga é uma das idealizadoras da Sociedade Amiga do Reino Animal (Sara), localizada na cidade. A professora aposentada cedeu a própria casa para abrigar os animais desamparados. Além da residência, os bichos recolhidos nas ruas ou levados até a entidade ficam em um terreno emprestado e em uma área particular localizada no interior do município.

abandonadoQuando a sociedade foi fundada, em 2002, Sara tinha como objetivo conscientizar a comunidade para que cuidasse bem de seus animais de estimação. Para isso, a entidade realizava diversas atividades nas escolas, como palestras. No entanto, aconteceu um movimento inverso: ao invés de manter mascotes em casa, algumas pessoas que sabiam da existência da Sociedade passaram a abandoná-los em frente da residência de Olga. Esse tipo de atitude se repete até hoje. Para a professora aposentada, a população se acomodou. Ela acredita que as pessoas se aproveitam ao saber que existe uma organização dedicada a cuidar dos animais deixados nas ruas. Por isso, o círculo vicioso do abandono permanece.

No abrigo, os cachorros e gatos recém-chegados passam por tratamento de saúde, se necessário. Quem trata dos animais da Sara é o veterinário Francisco Kellermann Filho. Nas férias, ele tem recebido vítimas de atropelamento, agressão e viroses contraídas nas ruas. Grande parte, no entanto, é de fêmeas no cio ou prenhas. “As pessoas não querem cães no pátio, em decorrência do cio, ou filhotes para cuidar. Aí, elas simplesmente abandonam os animais”, conta. Outro fator que muito tem aparecido nos casos de desamparo é a depressão. Um dos principais sintomas que surgem nos cães e gatos depressivos é a falta de apetite.

A Sara trabalha com a perspectiva de adoção. Houve um período em que, a cada primeiro domingo do mês, era promovida uma feira com cachorros e gatos disponíveis para serem acolhidos pelas famílias. O evento, realizado na Praça Alberto Blanchard da Silveira, acabou atraindo – além de benfeitores – pessoas que, ao invés de cuidar dos animais, acabavam levando-os de volta para a rua ou até mesmo agredindo-os. “Foi por isso que não demos continuidade a esse trabalho”, explica Olga.

A entidade, que não é constituída judicialmente, sobrevive com o apoio de oito voluntários, além de 25 colaboradores que doam alimentos e materiais de higiene. Sem o suporte do poder público pelo fato de não ser regularizada, a Sociedade Amiga do Reino Animal é mantida com os recursos de Olga e o auxílio dos apoiadores.

Presente de Natal
No dia 24 de dezembro, Olga recebeu uma surpresa natalina. Na área mantida no interior do município, alguém deixou uma cachorra amarrada no portão. Pantufa, como foi denominada, carregava um bilhete. O aviso informava que ela não tinha nenhum “defeito”, mas que precisava de ajuda. Em razão da quantidade de animais abandonados a partir do Natal, os vizinhos de Olga chegam a ironizar a situação. “Eles costumam dizer que estão observando os ‘presentes’ que recebo”, comenta.

Pantufa é um animal grande. Algumas pessoas abandonam seus bichos de estimação justamente por esse motivo. “É preciso se conscientizar de que cães e gatos crescem, envelhecem e precisam de água, comida, cuidados e espaço. Não se pode criar um animal para bonito. É necessário cuidar dele e levar em conta todos esses fatores”, explica Olga Maria.

Abandono à beira do asfalto
No dia 4 de fevereiro, Maria Cristina Pereira Nunes cortava a grama do seu pátio quando viu um Chevette verde-claro parando na RSC–287, em frente da sua casa. Dele, foi jogada uma cachorra branca em direção à rodovia. Sem pensar duas vezes, a dona de casa correu para buscar o animal que, assustado, andava por entre os carros. Essa não é a primeira vez que algo semelhante acontece. Segundo Maria Cristina, frequentemente cães e gatos são deixados à deriva em plena estrada, inclusive por pessoas vindas de outros municípios. Ela conta ter acolhido vários deles e lamenta a atitude dos proprietários: “Se alguém é capaz de fazer isso com um animal, imagina o que pode fazer a um ser humano”, observa.

Fonte: Gazeta do Sul