Impulso torna pets um produto descartável

Ter um animal de estimação em casa é um costume tão antigo quanto a própria existência da humanidade. No entanto, de uns tempos para cá, além de ser uma prática comum, transformou-se em modismo. E isso tem preocupado autoridades de saúde pública e também os defensores dos animais.

Especialmente cães e gatos tornaram-se produtos, que são oferecidos às crianças como se fossem bichos de pelúcia. Viraram uma opção de presente. Agora é chique ter um bichinho para carregar no colo, durante os passeios, ou mostrar para as amigas e amigos.

Mas ao contrário dos bichos de pelúcia, os animais de verdade necessitam de atenção e cuidados especiais. Além disso, dão trabalho, fazem barulho e sujeira.

E muitas pessoas, quando se dão conta disso e percebem que não têm tempo nem paciência para conviver com tudo isso, simplesmente esquecem que o animal existe ou procuram se livrar dele na primeira oportunidade.

Não à toa, Bauru (e não só Bauru) vem registrando um volume crescente de denúncias de maus-tratos e abandono de animais. Como consequência, a cidade vive em alerta por causa de doenças como a leishmaniose, que é fatal também para o ser humano, com a infestação de carrapatos e com a reprodução descontrolada dos animais de rua, o que só piora a situação já crítica.

Alguns números apresentados pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) dão uma pequena mostra de como o problema está evoluindo rapidamente. Em 2007, foram colocados 343 animais, entre cães e gatos, para adoção. No ano passado, o número saltou para 1.068.

Da mesma forma, a quantidade de cães e gatos castrados pelo CCZ subiu de 27, em 2007, para 204, em 2010. Ainda é pouco diante do tamanho da população pet de Bauru, estimada em 60 mil cães e 20 mil gatos, mas não deixa de ser um aumento significativo.

Desde que foi inaugurada em Bauru, em setembro do ano passado, a Delegacia de Crimes Ambientais já comprovou 33 casos de maus-tratos e abandono de animais. Para o delegado Dinair José da Silva, titular do 1º Distrito Policial (DP), onde funciona a delegacia, trata-se de um número significativo.

Guardadas as devidas proporções, ele lembra que em 2008 e 2009, o 1º DP (que atende uma região da cidade) registrou apenas uma denúncia de mesma natureza. Já a Delegacia de Crimes Ambientais (que atende toda a cidade), desde que iniciou suas atividades, recebe denúncias todos os dias, segundo o delegado.

Todos os veterinários ouvidos pelo Jornal da Cidade defendem que a decisão de criar um animal de estimação não deve ser tomada por impulso. Segundo eles, muitas outros aspectos precisam ser levados em consideração antes de atender a esse desejo.

Eles lembram que os animais vivem muitos anos e enquanto estão na casa vão afetar a vida da família de diversas maneiras. Por isso, é preciso estar preparado para conviver com eles.

“Antes de levar um animal para casa, seja ele qual for, a pessoa tem de ter em mente que vai ter de cuidar dele até ele morrer. Isso é posse responsável. Nada de pensar em se livrar do animal na primeira dificuldade”, adverte a veterinária Maria da Conceição Pampini.

Conhecer as particularidades do animal que se pretende comprar ou adotar é outro cuidado indispensável para evitar surpresas e, como consequência, gerar mais abandonos.

Dedicação ao resgate de animais de rua muda a vida de aposentada
A estilista aposentada Maria Gomes não mede forças nem consequências para dar uma condição de vida um pouco mais digna para os animais que encontra na rua, vítimas de maus-tratos e abandono.

Ela diz que perdeu as contas de quantas vezes adiou um compromisso ou mudou os planos só para socorrer cães feridos ou famintos. Maria comenta que no carro dela nunca falta ração, água e um cobertor.

Se ele encontra um cão faminto, dá-lhe o que comer e beber. Se o acha ferido, usa o cobertor para colocá-lo no carro e levá-lo até um veterinário. A função do cobertor é protegê-la de uma eventual mordida do animal, que, por estar arredio em função de alguma violência sofrida, tenta se proteger atacando.

Depois de resgatar e recuperar o animal, ela o coloca para adoção. Alguns acabam ficando com ela. Até o momento, são 15 os animais “inegociáveis” por causa do amor que ela nutre por eles. São 12 cães e três gatos. Quase todos retirados da rua. Só três fogem à regra por terem nascido na casa dela.

Maria diz não ter ideia de quanto gasta por mês para sustentar tantos animais. A única coisa que ela tem certeza é que o gasto não é pequeno. “Esses dias, gastei R$ 200,00 só com vacina”, lembra.

Mas ela não reclama. “Melhor companhia não existe. Eles sentem quando eu estou triste. Quando estou doente, eles não comem. Se tiver de passar fome comigo, eles passam. Eles nunca me aborrecem. Ao contrário dos humanos”, justifica.

Pequenos mamíferos ganham espaço
Mamíferos como coelho, hamster, chinchilas, porquinhos da índia, e aves como calopsitas, agapórnis, lori, para citar os mais conhecidos, também têm seu espaço entre aqueles que gostam de animais de estimação.

A exemplo dos cães e gatos, eles também podem ser domesticados e transformados em boas companhias.

No caso das calopsitas, elas podem até mesmo assoviar e emitir o som de palavras. Uma das vantagens em ter esses animais é não precisar se preocupar com vacinas. Mas nem por isso estão livres de doenças transmissíveis.

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“Como todo animal doméstico, eles também precisam de cuidado com a alimentação, com a higiene, além de muito amor e carinho. Mas sem exageros”, avisa a veterinária Maria da Conceição Pampini.

De acordo com ela, a primeira coisa a ser observada e respeitada é o estilo de vida desses bichos. Conceição frisa que as aves costumam dormir quando o sol se põe. Portanto, nada de querer que o bichinho fique até altas horas assistindo TV para servir de companhia.

No caso dos pequenos mamíferos, ocorre justamente o contrário. São animais de hábitos noturnos, ou seja, costumam dormir durante o dia e brincar a plenos pulmões à noite. “Por isso, antes de levar um animal para casa, o melhor a fazer é conversar com um veterinário para obter informações específicas sobre a espécie ou raça”, recomenda a veterinária.

Outro cuidado que deve ser tomado é saber se o animal pode ser levado para casa. Isso quando se trata de alguma espécie diferente de cão, gato e dos animais citados no início do texto. Tartaruga, por exemplo, é proibido ter em casa. Nem ela nem nenhum outro animal da fauna nacional – a não ser que seja adquirida em loja credenciada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e mediante fornecimento de nota fiscal.

O Ibama, aliás, é uma boa fonte de consulta para saber se o animal que se pretende ter em casa faz parte da fauna nacional.

Fonte: JC Net