Indefinição sobre continuidade da campanha preocupa veterinários

Mogi das Cruzes – Só daqui a três semanas o Instituto Pasteur, ligado ao Governo do Estado, irá emitir um laudo conclusivo sobre o que ocorreu com as doses da vacina contra raiva para cães e gatos, que começaram a ser aplicadas de forma gratuita, durante a campanha pública, e acabaram gerando reações exageradas nos animais, levando alguns, inclusive, à morte. Mas a suspensão do programa de imunização não se reverteu, necessariamente, num aumento da procura pelo medicamento na rede particular.

Segundo médicos veterinários da Cidade, a maioria das pessoas que vacinavam seus bichinhos pelo sistema público pretende aguardar uma decisão do governo para poder, mais tarde, fazer o procedimento sem gasto algum. Para alguns, aliás, a situação é preocupante, pois se os proprietários dos animais não acreditarem mais na qualidade do produto, podem simplesmente deixar de fazer a vacinação. E, caso isso ocorra, há riscos de surgir uma epidemia.

Para quem ainda não vacinou seu animal, há duas opções: adquirir as doses que são comercializadas em alguns pet shops da Cidade, por um preço médio de R$ 10,00, ou então procurar clínicas privadas, que trabalham com uma oscilação de preço entre R$ 20,00 e R$ 30,00. Embora os valores não sejam altos, para quem tem mais de um pet, o gasto pode ser considerável. É o que argumenta a veterinária Itaici Nascimento, que comanda uma clínica em César de Souza. Para ela, o mais provável é que não aconteça uma segunda rodada da campanha.

“Eu acho que eles não vão mais fazer campanha pública, porque a vacina já perdeu a credibilidade. Não acho que as pessoas vão confiar. E também não acho que todos vão aceitar pagar pela vacina, então isso torna a situação bem preocupante. As campanhas de vacinação contra raiva são feitas porque, controlando a raiva nos animais, a gente impede que ela passe para o ser humano. E no ser humano a raiva é letal”, alerta.

Na clínica onde atua, Itaici diz que a vacina sai por R$ 20,00. Ela garante, aliás, que o medicamento é fabricado por outro laboratório, e não tem relação alguma com o que foi distribuído pelo governo. Logo, é 100% seguro. Mas, segundo tem observado, o movimento está baixo, tendo em vista a suspensão da campanha.

A também veterinária Lílian Moemi Oda, que atua numa clínica da Vila Cintra, está com a mesma impressão. Segundo ela, as pessoas que aparecem em busca da vacina para seus animais – são cerca de duas por dia – são clientes fixos, que já costumavam fazer a vacinação pelo sistema privado. Logo, ela não percebeu nenhuma ampliação no perfil do público que demanda o medicamento, o que a leva a crer que muitos estão esperando realmente uma nova campanha.

O que Lílian tem observado como alternativa para os proprietários de cães e gatos é adquirir a vacina em pet shops e algumas casas de ração que comercializam o produto. “Alguns desses locais vendem a vacina de fabricação nacional, que é mais barata, e acaba sendo a escolha de muitos. A que estamos aplicando é outra; ela é importada. Mas o movimento que temos tido aqui é dentro do que já estamos acostumados. São clientes fixos”.

A vacinação contra raiva deve ser aplicada em todo cão e gato, a partir dos quatro meses de idade. A dose tem de ser reaplicada anualmente para que não perca a eficácia. O medicamento só não é recomendado para animais que estejam doentes, cadelas ou gatas prenhas, ou em período de amamentação. A vacina contra a raiva, assim como todas as outras, pode causar febre, desânimo e falta de apetite, mas esses sintomas devem passar até no máximo 24 horas após a aplicação.

Reações

No último dia 18, a Secretaria de Estado da Saúde decidiu recomendar a todos municípios paulistas a suspensão imediata da campanha de vacinação contra raiva animal. Em apenas dois dias, 567 cães e gatos vacinados no Estado apresentaram reações, 38% consideradas graves, como cansaço extremo, dificuldade respiratória, convulsões e hemorragias. Pelo menos dez animais foram a óbito por choque anafilático. Em Mogi das Cruzes, três animais apresentaram reações leves, mas nenhum morreu. A Cidade também suspendeu a imunização e aguarda uma segunda ordem da Pasta estadual.