Lei contra uso de animais no circo causa polêmica no Rio

RIO DE JANEIRO – No Rio de Janeiro , a Lei Estadual nº 3.714/01 – de autoria do deputado Edson Albertassi (PMDB) – que proíbe a utilização de animais em espetáculos circenses ou de qualquer natureza, ainda levanta uma discussão calorosa e divide opiniões. De acordo com o Albertassi, o que o impulsionou a criar a lei foi “o episódio apresentado pela mídia sobre um garoto no Nordeste que havia sido devorado por um leão faminto num circo”. O caso a que o deputado se refere é do menino José Miguel dos Santos Júnior, de 6 anos, morto por um leão do Circo Vostok, em 2000, no estacionamento do Shopping Center Guararapes, no Recife (PE).

Informações da época revelaram que a criança morreu depois de ter sido chamado por um animador do circo para ver o leão de perto. O animal puxou o menino, que passou pelas grades e foi atacado. O acidente provocou comoção nacional e os pais do menino deram início a uma campanha contra a presença de animais em circos, e conseguiram a aprovação de lei estadual que determina a proibição dos bichos em qualquer apresentação pública.

– A matéria me chocou muito e me motivou – disse o deputado Albertassi, ao destacar registros de maus tratos, praticados, tanto na manutenção dos animais de circo, quanto no treinamento deles, para forçá-los a posturas e movimentos circenses. – Tenho uma série de informações em vídeo, sobre o modo como o animal é treinado. É seguido de maus tratos. A iniciativa foi para que o Rio não tivesse a participação desses animais.

Se houver a apresentação de animais em circos é aplicada a multa pelo órgão fiscalizador. Quem desrespeitar a lei fica sujeito à multa de 10 mil Ufirs, que será revertida para as instituições de proteção e cuidados dos animais situadas no município que der origem à autuação.

A lei que cala
Filho de artistas circenses – imigrantes espanhóis – Irineu Nunes Júnior, 42 anos, é proprietário do Circo Las Vegas, em temporada até março na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Revelou que o circo tem quase 70 anos. Trata-se de uma tradição de família. Também perdeu as contas das vezes em que o circo mudou de nome. O atual foi sugerido por um americano que se instalou por algum tempo no local. Casado e pai de três filhos, Júnior – que faz a locução do espetáculo – não escondeu que cresceu com os animais do circo, então exibidos ao público sempre que chegava numa capital. Macacos, leões, elefantes, lhamas, cavalos, entre outros, desfilavam pelas cidades do país anunciando a vinda dos espetáculos.

Falar sobre a lei que proíbe a apresentação de animais em circo é silenciar a conversa com Júnior.

– Prefiro ficar neutro – disse.

– Não gostamos de falar porque tivemos animais e não podíamos mais ficar com eles. Doamos para os zoológicos espalhados pelo Brasil, por onde passávamos e levamos os cavalos para um sítio particular. A lei prejudicou na época, pois tivemos que nos desfazer dos bichos e nos reestruturar. Num espetáculo, quatro ou cinco números eram feitos com animais, num período de duas horas. Fico neutro porque tenho um círculo de amigos que ainda têm animais e brigam por isso.

Júnior chegou a fazer estatística para medir a satisfação do público com a lei.

– Devido ao caso registrado no Recife, as pessoas estavam contra – lembrou. – Antes, o animal era uma propaganda natural: as pessoas olhavam e já vinham ao circo. Hoje é o espetáculo que ganha força.

O circo é composto por 12 famílias e todas carregam a tradição circense, conforme informou Júnior. Por outro lado, segundo ele, a promulgação da lei incentivou o interesse das crianças que ali vivem. Os três filhos (18, 14 e 13 anos) são artistas e se revezam nas funções de globistas, malabaristas, trapezistas, mágicos, acróbatas, bailarinas e palhaços – o símbolo do circo.

Fonte: Jornal do Brasil