Mais de 80 mil focas serão mortas em temporada de caça anual na Namíbia

Por Patrícia Tai (da Redação)

A temporada anual de caça às focas na Namíbia (república africana), que fará com que 86 mil focas sejam massacradas até o final de novembro, começou neste domingo (15) em meio a protestos de grupos de defesa animal que denunciam que o massacre tem fins comerciais.

Os caçadores batem nas cabeças das focas com tacos de madeira cravados de pregos (Foto: iafrica.com)

Neste ano, o objetivo é matar 80 mil filhotes e atirar em 6 mil animais adultos.

As autoridades da Namíbia defendem que a caça, que chamam de “colheita”, visa controlar a população de focas cujo crescimento ameaça a indústria da pesca.

“A população aumentou e chegou a um ponto em que ultrapassou de longe a capacidade do ambiente… por isso a ‘colheita’ é uma atitude humana para conter o crescimento desenfreado a um nível em que possa ser sustentado pelo meio”, disse o Governo da Namíbia em uma declaração.

Mas ativistas afirmam que a atitude do Governo é hipócrita e que a caça é realizada para fins comerciais.

“Não há justificativa para o assassinato. Isto é uma questão puramente política e econômica, sem preocupação pelo bem-estar animal,” disse o diretor da ONG International Fund for Animal Welfare (IFAW) na África, Jason Bell, em entrevista para a AFP.

De acordo com o Ministério da Pesca e Recursos Marinhos, havia 1,3 milhões de focas em dezembro do ano passado, mas a IFAW e outras organizações recusam-se a crer na informação, porque eles não têm permissão de acesso aos registros para verificar como é realizada a contagem dos animais.

O acesso deles às colônias ao longo da Skeleton Coast durante a caça (“colheita”) também é restrito.

Segundo a IFAW, a caça de focas com fins comerciais na Namíbia é a segunda maior no mundo e só perde para o Canadá, que também ganhou notoriedade com a mesma prática.

A colônia de focas da costa Cape Cross, que fica há aproximadamente 116 km ao norte do centro de cidade turística de Swakopmund, é uma das duas reservas onde as mortes ocorrem, protegidas do olhar da mídia.

Nas reservas, as focas são colocadas de barriga para cima na praia e os caçadores batem em suas cabeças com tacos de madeira cravados de pregos, repetidamente, para efetuar um golpe mortal.

As carcaças são então carregadas em caminhões e levadas para o processamento nas fábricas de sete grandes empresas.

Os animais são caçados por suas peles, pela sua gordura – que é usada em produtos de beleza e em estimulantes sexuais masculinos, pois na Ásia se acredita que tenha propriedades afrodisíacas.

No entanto, Bell acredita que a proibição de 2010 sobre as importações de derivados de focas pela União Europeia irá conscientizar e diminuir consideravelmente o mercado.

Dentre outros países que também proibiram a entrada de produtos derivados da foca estão os Estados Unidos.

“Nós queremos que mais países sigam o exemplo, que será a única maneira de coibir essa prática”, disse Bell.

Conforme informações do grupo ativista sul africano Seal Alert (SA), a Namíbia é o único país que permite a caça de filhotes de focas que ainda dependem de suas mães, o que também interrompe o processo de manutenção da espécie.

“Estamos preocupados com os filhotes que serão mortos pois isso é uma prática imoral por si só”, disse o diretor François Hugo.

O governo da Namíbia vem constantemente rejeitando as acusações.

No mês passado, o ombudsman do Governo recusou o pedido da Seal Alert, feito no ano passado, por uma interdição imediata contra a matança.

O ombudsman disse que não tem um mandato para recomendar que o governo pare o abate, e que as focas não estão ameaçadas de extinção no âmbito da Convenção Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Selvagens (CITES).

Ele acrescentou que a “colheita” é legal e permitida, de acordo com a Lei de Recursos Marinhos do país.

A Namíbia é o único país do Hemisfério Sul que está caçando focas comercialmente, segundo a Seal Alert.

A caça às focas também ocorre no Canadá, na Islândia, na Groenlândia, e nos países escandinavos da Noruega, Suécia e Finlândia.

Petição contra a matança

Um petição online criada no site Change.org está reunindo assinaturas pedindo o fim do massacre às focas. Para participar, acesse aqui.