Vamos acabar com as carroças, amigos Gaúchos?

Ramiro: a triste história de um guerreiro Farroupilha que hoje vive aos farrapos.

Não sei quem são meus pais, mas sei que foram gaúchos e que em minhas veias corre sangue crioulo.

Ajudei a construir, a ferro, fogo e a carga de cavalaria, a história de nosso Estado; carreguei no lombo, com orgulho e bravura, o gaúcho que defendeu o Rio Grande de todas as tentativas de invasão e domínio já sofridas.

Mas sei que quebraram meus dentes para colocar freios e que minhas ferraduras foram colocadas por quem nada entende de cavalos; que trabalho em um ambiente urbano inóspito, para o qual não fui criado, que minha alimentação é pouca e de má qualidade, que trabalho pela manhã para um ‘dono’, à tarde para outro, e durante a noite para um terceiro.

E, pior, eles nem meus donos são: meu dono me aluga para quem quer que pague, e ao final do dia, após trabalhar de manhã, de tarde e de noite, fico aguardando, preso à carroça, que meu ‘dono da noite’ saia do bailão, para então levá-lo até sua casa.

Meu dono e os que me alugam são pobres e esfarrapados como eu, mas eles têm a liberdade de ir e vir, de alimentar-se, de beber e divertir-se ou de simplesmente descansar quando bem quiserem. Já eu, trabalho quando eles querem que eu trabalhe, só mato minha fome se eles querem que eu coma, bebo se eles permitem que eu beba, descanso se eles deixam-me descansar.

Minha perna foi quebrada, e mesmo assim puxei carroça até cicatrizar, à base de muita dor e sofrimento; meu pêlo já não mais cresce, dada a quantidade de ferimentos que carrego pelo corpo – que está inclinado, pois já se acostumou: foi o único jeito de puxar a carroça com uma das patas quebradas.

Nas frias noites do inverno gaúcho, durmo ao relento, e graças a isso um reumatismo me atormenta quase tanto quanto o chicote do homem que me guia; no escaldante verão portoalegrense, as ruas da cidade queimam minhas patas, que não nasceram para o asfalto.

Gostaria de passar meus últimos dias livre, em qualquer cantinho do pampa, mas sequer uma morte digna me é permitida: assim como muitos outros irmãos, morrerei na rua puxando uma carroça sobrecarregada, mal alimentado, sedento, doente e sofrendo dores terríveis. Chamo com o olhar por alguém que me ajude a acabar com meu sofrimento, mas ninguém parece me ver.

GAÚCHOS VAMOS MUDAR A HISTÓRIA DE TANTOS “RAMIROS”…

Atenção: dia 12 de junho, às 14h, no Plenário Otávio Rocha da Câmara Municipal de Porto Alegre (Av. Loureiro da Silva, 255 – ao lado do ‘Chocolatão’), haverá a votação do Projeto de Lei que proíbe a circulação de carroças na Capital.