Cães são usados em terapias por hospitais

Quando o garoto Isaac, então com seis anos de idade, estava desacreditado por médicos em um hospital de Campinas quando recebeu uma visita que o fez levantar da cama pela primeira vez depois de ter sido atropelado por uma moto. Eram os cães que participam de terapias em hospitais pelo projeto Medicão. O mesmo aconteceu no início de 2010 com Pedro, também de seis anos. Numa tarde, enquanto brincava com o avô, ele caiu sobre uma mesa de vidro e teve diversos órgãos perfurados. Após o acidente, o trauma fez com que o menino não quisesse mais sair da cama. O quadro só mudou após a visita especial dos cachorros, a pedido de sua médica.

O projeto Medicão Terapeuta Multidisciplinar reúne 18 voluntários e 10 cães e é liderado por Hélio Rovay Júnior. Enquanto trabalhava como adestrador há mais de 10 anos, ele percebeu que uma criança com síndrome de Down, filho de um cliente, melhorava depois de ter contato com os animais. “Ele se comunicava melhor e apresentava diversas funções que não exercia normalmente”, afirma Rovay. “Não encontrei informações sobre o assunto no Brasil e, pela internet, comecei a pesquisar dados dos EUA e da Europa. Na época, eu tinha uma labradora e comecei a treiná-la e a usá-la, como experiência, para depois fazer cursos e se especializar no assunto.”

Entre os voluntários do grupo estão a esposa e a filha de 12 anos de Rovay. O projeto Medicão visita três hospitais e duas escolas em uma programação que inclui quartas-feiras e finais de semana. “Minha filha adora ajudar e sempre pede para ir”, conta o adestrador.

Silvana Fedeli Prado, presidente da ONG Inataa (Instituto de Ações e Terapias Assistidas por Cães) começou a trabalhar na área de terapia com animais ao perceber o quanto seu cão era dócil. “Eu o achei na rua e ele sempre foi um cachorro bom com as pessoas e com outros animais. Depois que vi na TV uma reportagem sobre esse tipo de terapia, resolvi fazer um teste em uma instituição para ser voluntária”, conta.

Fundada em 2008, a Inataa tem 65 voluntários e 61 cães e atende cerca de 400 pessoas por mês, entre crianças, adolescentes, adultos e idosos. “Os benefícios são para as pessoas e para os cachorros. Eles também liberam adrenalina e hormônios nesse trabalho”, afirma Prado.

Todos os cachorros seguem uma norma internacional de higiene, são cadastrados e adestrados, e têm os certificados de vacinas e vermifugação renovados mensalmente. Há um procedimento de higienização feito antes de cada visita, em que os cães tomam banho com um xampu hipoalergênico para não interferir na saúde das crianças e dos acompanhantes que entram em contato com eles. “Cada cachorro é selecionado por seu perfil e direcionado para um tipo de atendimento. Se o cão for pequeno, precisa gostar de ficar no colo e ser afagado. Se o animal for grande, tem de ficar no chão recebendo carinho e responder a isso de forma positiva.” Segundo Prado, alguns cães podem passar ainda por um processo de “desensibilização” no qual se acostumam a ser tocados em partes como orelhas e patas e até a levar puxadas de rabo. “Um dos meus cães era muito agitado, mas hoje deixa até as crianças andarem de cavalo com ele.”