Líder do tráfico de animais selvagens no Laos é intocável, dizem autoridades

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Em uma estrada de terra esburacada e obscura, não muito longe das margens do rio Mekong, o edifício de Vixay Keosavang se destaca por seus portões de ferro e paredes de blocos de concreto com arame farpado, um contraste com as frágeis casas de palafitas de madeira próximas às seringueiras.

Um segurança que abriu a porta, disse recentemente que tigres, ursos, lagartos e muitos tamanduás ameaçados se encontravam lá dentro. Ele ligou para seu chefe e deu o celular a um repórter buscando permissão para entrar no complexo.

Vixay, que falou educadamente, negou que houvessem animais dentro do complexo ou que negociasse animais selvagens.

“Não há nada lá”, disse Vixay sobre o prédio, que fica a 8 quilômetros da estrada pavimentada mais próxima. “Quem lhe disse isso?”

Vixay é notório entre os pesquisadores e oficiais do governo em vários países que lutam para acabar com sindicatos que operam um próspero comércio de animais em extinção que atravessa continentes e levou ao abate de elefantes na África, as mortes ilegais de rinocerontes e da dizimação de outras espécies que vivem em selvas da Ásia.

Vixay, de acordo com um investigador, é o “Pablo Escobar do tráfico de animais selvagens.”

Entrevistas com oficiais do governo em cinco países e uma revisão de centenas de páginas de documentos judiciais e governamentais compilados por uma organização de combate ao tráfico forneceram fortes evidências de que Vixay, natural do Laos, é um dos pilares das operações de contrabando de animais selvagem.

Mas a maior parte das operações comerciais de animais selvagens de Vixay, disseram os investigadores, é a “lavagem” de animais.

O esquema, segundo suas investigações, envolve contrabandear os animais de outros países para o Laos e depois exportá-los — com documentos oficiais do governo — sob a alegação de quem os animais foram criados no país em cativeiro e por isso podem ser vendidos legalmente.

O caso é especialmente frustrante para os ativistas estrangeiros, que dizem que Vixay fica intocável enquanto permanecer em seu país, onde as autoridades se recusam a investigá0lo apesar da quantidade de provas de suas atividades ilícitas. E, desta maneira, não há muita esperança de se destruir um império comercial que, segundo eles, conecta a savana africana à selvas asiáticas e aos consumidores de marfim e remédios tradicionais no Vietnã e China.

“Ele é o maior traficante ilegal de animais da Ásia,” diz Steven Galster, diretor executivo da Freeland, uma organização que combate o tráfico e que está investigando Vixay há oito anos. “Ele comanda um negócio agressivo, buscando animais lucrativos e órgãos onde puder. Todos os países com vida selvagem comercialmente valiosa deve tomar cuidado”.

A Freeland foi importante para fundamentar o caso contra Vixay, acumulando provas como contratos e documentos alfandegários do Laos que comprovam o tamanho de suas operações. A organização trabalha com políciais na Ásia, África e Estados Unidos e é financiada em parte pelo governo americano.

O crescente comércio de fauna exótica tem sido alimentado pela riqueza crescente na China e no Vietnã e a demanda por coisas como escamas de pangolim, que são consumidos na crença não comprovada de que ajudam as mães lactantes.

Vixay, 50, tem atendido a essa demanda crescente por animais como cobras, lagartos e tartarugas de sua base no interior do Laos, um país pouco povoado na fronteira com o Vietnã e a China e conhecido por sua corrupção generalizada.

Documentos sugerem que ele também está contrabandeando animais em extinção ou partes de animais de outros países, o que para algumas espécies foi sempre proibido pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens. Em outros casos, o tratado da ONU permite algum comércio, mas apenas se os animais forem criados em cativeiro. (Laos tornou-se signatário do tratado em 2004.)

Especialistas disseram que o grande volume de animais é evidência da lavagem de dinheiro. A procriação de 20.000 das espécies de tartaruga que a empresa de Vixay comumente vende poderia demorar uma década, de acordo com Doug Hendrie, um assessor na Educação para a Natureza, um grupo no Vietnã, que conduz investigações sobre o crime contra a vida selvagem.

Nos últimos anos, autoridades tailandesas interceptaram inúmeros caminhões que transportam tartarugas, filhotes de tigre, carcaças de tigre, pangolins e cobras por empresas associadas a Vixay do outro lado do rio Mekong, segundo a Freeland, uma associação contra o tráfico de animais exóticos.

Além disso, mais de 600 quilos de marfim que foram apreendidos pela polícia da Vida Selvagem do Quênia estavam destinados a serem entregues à empresa de Vixay.

Um item no apreensão no site do Serviço de Vida Selvagem do Quênia termina com esta súplica, “o Quênia pede que o comércio de elefantes pare completamente.”

Autoridades do Laos admitiram que o tráfico de animais é um problema, mas afirmaram que as evidências contra Vixay não são suficientes para investigá-lo mais. A prisão do tailandês Chumlong Lemtongthai, em 2011, considerado seu braço-direito, trouxe esperança que Vixay fosse envolvido e preso, mas um ano e meio depois, ele continua ainda livre.

“Nós não encontramos nada lá”, disse Bouaxam Inthalangsi, um oficial de alto escalão no departamento florestal do Laos.

Mas quando pressionado sobre a evidência volumosa contra Vixay, Bouaxam insinuou obstáculos. Fazer com que a lei fosse cumprida era “difícil”, disse ele.

“Tudo se trata da influência”, disse ele. “Os sindicatos do tráfico têm ligações com pessoas influentes – este é o principal problema.”

Fonte: iG