Tráfico de animais reduz expectativa de vida de papagaios em até dez vezes

O tráfico de animais é o responsável pela redução drástica na expectativa de vida dos papagaios trazidos a um zoológico no interior de São Paulo. De cada dez animais, nove morrem até cinco anos depois de terem chegado ao local. A conclusão é do veterinário brasileiro Ralph Vanstreels, que publicou um artigo no periódico britânico Zoo Biology. De acordo com o pesquisador, os animais trazidos pela polícia ambiental ao Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, em Sorocaba, interior de São Paulo, morrem por doenças e maus tratos do tráfico. A mesma queda na expectativa de vida deve se repetir em outros zoológicos e com outros animais vítimas do tráfico. “Isto provavelmente se estende para outras espécies de aves e mesmo para outros animais que são resgatados, como os mico-leões dourados”, diz.

Vanstreels analisou os dados do zoológico de Sorocaba entre 1986 e 2007. No total, 374 papagaios foram recebidos nesse período, a maioria da espécie conhecida como papagaio-verdadeiro, proveniente das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste do Brasil. É preciso permissão do Ibama para cuidar do animal. De acordo com a pesquisa, 91,7% dessas aves vieram do comércio ilegal. Infratores capturam os bichos ainda no ninho para depois vendê-los em feiras ilegais. Resgatados pela polícia, esses animais chegam em condições graves ao zoológico e a expectativa de vida, que no habitat natural é de 20 a 25 anos, cai para não mais que cinco anos. Em ambiente doméstico e com bons tratos, os animais poderiam viver até 50 anos.

Morte prematura – O veterinário explica que a expectativa de vida dos papagaios é menor por causa das doenças e deficiências que as aves trazem do período em que estiveram nas mãos do tráfico. Além disso, os cuidados inadequados que recebem de proprietários irregulares — por descaso ou por desconhecimento — também diminuem o tempo de vida dos bichos.

Muitos dos papagaios trazidos ao zoológico apresentam deformidades, lesões traumáticas, deficiências nutricionais graves e distúrbios comportamentais. “Alguns deles arrancam as próprias penas por causa do stress causado pelos maus tratos”, disse Vanstreels. É por isso que mesmo recebendo cuidados adequados por parte dos biólogos e veterinários, os animais morrem em um “período relativamente curto”.

Conscientização – O papagaio-verdadeiro não é considerada uma espécie em extinção. Mas ela não é a única a ser trazida ao zoológico. Dentre outras, aparecem o papagaio-chuá, o papagaio-da-cara-roxa e o papagaio-charão. Segundo Vanstreels, a falta de conhecimento dos compradores é um dos principais motores do tráfico de animais. “O tráfico de animais só terminará quando as pessoas pararem de comprar a ave ilegalmente”, diz.