De ração a óculos escuros, negócios pet chegam a 10 bilhões de reais

Paulistano da zona norte, o empresário Sérgio Zimerman, de 45 anos, colecionou insucessos na sua trajetória empreendedora, iniciada aos 18 com uma pequena empresa de eventos. Fantasiado de palhaço, ele animou mais de quatro mil festas infantis ao lado da namorada. O negócio evoluiu para um buffet, na sequência para um mercadinho, e, por fim, para um atacadão, que foi à falência.

Em 2001, no vermelho, Zimerman decidiu recomeçar num setor completamente desconhecido para ele, de animais de estimação. Mais por intuição do que por estratégia de negócio, o empresário migrou para um nicho de mercado em plena expansão e virou o jogo. Hoje ele comanda uma das duas únicas redes brasileiras de superpet shops. Com 12 lojas na cidade de São Paulo e no litoral paulista, o Pet Center Marginal fatura anualmente R$ 300 milhões, segundo estimativas feitas pelo setor.

Desde que Zimermam entrou para o ramo, há dez anos, o mercado evoluiu a seu favor. Com uma população de 35 milhões de cães e 18 milhões de gatos no País, esse segmento faturou no ano passado R$ 10,14 bilhões e espera em 2011 chegar aos R$ 11,2 bilhões – um crescimento de 4,5%. O aumento não é explosivo porque não é todo o setor que está em expansão.

“Mais do que um mercado em crescimento, esse é um mercado em fase de maturação”, diz Luiz Goes, sócio e diretor da GS&MD, consultoria especializada em varejo que nos últimos dois anos se dedicou a fazer o primeiro raio-X do mercado pet brasileiro. “O consumidor tem laços cada vez mais fortes com o animal: virou um integrante da família, está comendo melhor, indo mais ao veterinário e recebendo mais mimos.”

Caminhar para a maturidade significa dizer que o mercado está se sofisticando. Os dados da Euromonitor mostram que, em 2005, os brasileiros gastavam em média, por animal, US$ 30 dólares por ano. Agora, gastam US$ 70. Comparações com os Estados Unidos ajudam a entender o que pode acontecer no Brasil daqui para frente. Lá, os US$ 48 bilhões de dólares movimentados no ano passado estão mais bem distribuídos.

Comparações
No mercado americano, os gastos com medicamentos, produtos naturalmente mais caros, representam 22% do total. No Brasil, não passam de 6%. “Não estamos falando apenas de um aumento no volume de vendas, mas na qualificação do consumo”, diz Gilberto Neto, gerente de marketing da Animal Health, da Bayer. “Cerca d e 70% de nosso público alvo é constituído de mulheres, das classes A e B.”

Na alimentação animal, há dois movimentos paralelos: a substituição de restos de comida por ração e a troca da ração mais barata por outra elaborada. A líder desse mercado no mundo e no Brasil é a Mars, fabricante das marcas Pedigree, para cães, e Whiskas, para gatos. Com duas fábricas, em Recife e Mogi Mirim, a empresa começou a desenvolver produtos “sob medida” para o mercado brasileiro. “Acabamos de lançar aqui uma ração mais agradável ao paladar”, diz José Carlos Rapacci, diretor de marketing para petcare da Mars Brasil.

Se na indústria o mercado pet ganha sofisticação, no varejo ainda predominam a informalidade e a pulverização. Segundo o levantamento da GS&MD, existem 25 mil pet shops no País, responsáveis por mais da metade das vendas de produtos e prestação de serviços no setor.

É aí que entra o negócio de Sérgio Zimerman e de sua única concorrente – a também paulistana Cobasi, com 13 lojas. Em unidades que lembram verdadeiros supermercados, eles oferecem de ração a óculos escuros para bichos, além de brinquedos, hidratação de chocolate para os pelos, protetor solar. A seção de roupas lembra uma loja de departamentos convencional. “Esse formato de mega loja ajuda a promover o fenômeno da humanização dos bichos”, diz o empresário, que teve de se acostumar a ver seus clientes conversando com gatos e cachorros nos corredores das lojas.

IPO
Consciente de que seu superpet shop pode ganhar com o amadurecimento do setor, Zimermam se prepara agora para uma expansão mais ousada. A meta é inaugurar três novas lojas por ano e levar a operação para outros estados. Segundo fontes do setor, o empresário já está a caça de investidores que queiram “patrocinar” seu crescimento. Questionado, ele não quis falar sobre o assunto.

As novas lojas, por enquanto, devem entrar em operação com recursos próprios. “E quando atingirmos as 90 unidades, quem sabe, podemos pensar num IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês)”, diz o empresário. Zimerman já avaliou a possibilidade de abrir capital no Bovespa Mais, um ambiente da bolsa de São Paulo criado para atender empresas de porte médio, mas achou melhor esperar.

No início deste ano, ele passou a adotar práticas de governança corporativa, com a contração de novos gestores. Instituiu também políticas de meritocracia, com distribuição de bônus. Se cumprirem as metas, os gerentes podem ganhar até 12 salários no fim do ano. “Se queremos crescer com esse mercado, temos de começar agora.”

Fonte: Bonde