Mercado de produtos e serviços estão se expandindo para atender clientes cada vez mais exigentes

Para muitos proprietários os animais de estimação não são apenas os melhores amigos: recebem cuidados especiais como se fossem filhos. De olho nesse mercado, clínicas veterinárias e pet shops estão expandindo seus serviços, oferecendo atendimento e produtos diferenciados para atender à crescente demanda.

De acordo com a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos para Animais de Estimação (Anfalpet), o mercado pet obteve o faturamento de R$ 9,6 bilhões em 2009. Em valores aproximados, o resultado engloba os setores de alimentos (R$ 6,2 bilhões), serviços (R$ 1,8 bilhão), equipamentos e acessórios (R$ 863 milhões) e medicamentos veterinários (R$ 696 milhões). A previsão é de que o setor cresça até 4% neste ano.

“Se deixar, compro tudo o que vejo”, diz a estudante Luana Paula Oliveira, 28. Ela cuida de Lina, um ano, da raça Jack Russel, que foi adquirida aos seis meses de idade, em um canil de Belo Horizonte por R$ 600. “Ela é supergrudada comigo e é a queridinha da casa: dorme na minha cama, a ração dela é esquentada no micro-ondas… De vez em quando, meu filho fica com ciúmes, porque ela fica mais comigo do que ele”, conta a estudante.

Bolas de diversos tamanhos, coleiras, roupas e calcinhas (para a época do cio) estão entre os itens comprados para Lina. “Tem que ter uma calcinha de cada cor, para combinar com a coleirinha e o vestidinho”, destaca Luana. Pelo menos uma vez ao mês, Lina é levada ao pet shop para o corte das unhas e limpeza das orelhas. “Passam esmalte na unha dela, dão banho com xampu calmante e ela volta com um terceiro olho”, descreve. Para cada banho, Luana paga entre R$ 18 e R$ 20. Outros gastos são: ração de 15kg, que dura cinco meses (R$ 150); remédio para prevenir contra pulgas e carrapatos (R$32), vacina (R$35); vestido (R$ 20) e coleira com strass (R$ 15). No verão, ela compra caixa de água de coco para a cadelinha. Para viagens de carro, Lina tem uma cadeira especial que custou R$ 80. “No mais é isso: banho e mimo”, diz Luana.

Outra pessoa que não mede esforços para o bem-estar de sua companheira é a professora de inglês Daniela de Castro Andrade, 30. A Yorkshire Terrier, Luna de Castro, 5, foi adquirida por R$ 2.500 em um canil de Itajaí (SC) e registrada com sobrenome. “Ela veio, a princípio, para ser matriz reprodutora, já que a cor da pelagem, azul-aço com canela, é rara aqui na região. Quando chegou, meu mundo mudou. Passou a ser minha melhor amiga, minha companheira, minha filha”, ressalta.

Entre os principais gastos, estão o banho e a tosa completa (R$ 68); a ração de 3kg, que dura de 40 a 45 dias (R$ 75) e os biscoitos caninos para evitar o tártaro (R$ 17). Também existem as despesas anuais: medicamento antipulgas e vermífugo (R$ 250), duas consultas domiciliares com veterinário (R$ 90 cada), vacinas (entre R$ 150 e R$ 200), medicamentos para o ouvido (R$ 60) e lacinhos (R$ 36 a R$ 50). Com isso, a média mensal dos gastos chega a R$ 190.

“Meu marido também concorda que Luna é um membro de nossa família. Ela dorme em nosso quarto. É uma lady: não late, é comportada e tem uma postura impecável. Está sempre cheirosa e de lacinho. Ela não demanda cuidados excessivamente caros, mas não poupamos com os cuidados essenciais de que precisa”, afirma Daniela.

Já a psicóloga Lígia Magalhães, 30, afirma não ter gastos muito elevados com a estética da boxer Amy Winehouse, um ano, já que sua pelagem é curta e não demanda muitos cuidados além do banho. No entanto, o consumo de ração, devido ao porte mediano, é em média 10kg ao mês, o equivalente a R$ 100. “Também gasto muito com brinquedos (cerca de R$ 30 mensais) porque se não tiver algo para ela se distrair, ela destrói a casa!”, conta Lígia que justifica o nome dado à cadela pelo seu temperamento hiperativo e imprevisível.

A aplicação do antipulga (R$ 49)e do vermífugo (R$ 20) é trimestral. “Amy nunca adoeceu, é muito saudável. Está sempre brincando e adora passear. Ela completa minha família e tentamos dar o melhor a ela”, afirma.
Demanda
O groomer (profissional da área de estética canina) da Pet Colosso, Túlio Oliveira, observa que os donos estão mais interessados no bem-estar do animal. “Há pessoas que não gastam com elas o que gastam com o cão”, declara.

Diariamente, Túlio atende entre oito e 16 cães, dependendo do dia da semana e do serviço a ser realizado. A demanda aumenta em dias de eventos e em datas festivas, como Natal, Ano Novo, Dia das Mães, Dia dos Pais. Os serviços oferecidos pela clínica de estética são diversificados. Para relaxar e cuidar dos pelos dos animais são utilizados xampus com extratos naturais, como maracujá, pitanga e cupuaçu. “Além da tosa, podemos fazer uma cauterização, um penteado, usar um antipulgas, usar guia ou coleira, uma roupinha… Isso vai influenciar no preço final da compra do cliente. O gasto vai depender da condição financeira e do amor que tem pelo animal”, afirma Túlio.

Túlio comenta que, de forma geral, os setores de clínica veterinária, pet shop e estética estão crescendo, mas são afetados quando a economia enfrenta problemas. “Na crise econômica, cortam-se gastos. O que vai cortar primeiro: a farmácia, a escola do seu filho, o supermercado ou o pet shop? Se a economia e você estão bem, o pet shop também estará: uma coisa influencia a outra”, pondera Túlio.

A proprietária da Clínica Saúde Animal, em Itabira, Suéli Guerra Lopes, confirma que o número de clientes desse mercado está aumentando. O atendimento diário varia entre três e dez cães, dependendo do dia. A procura aumenta no verão e nos feriados, devido aos clientes que desejam tosar seus animais ou deixá-los em um hotelzinho enquanto viajam. O atendimento oferecido na clínica veterinária engloba consultas, cirurgia, vacinas e farmácia. No pet shop há hotelzinho, táxi-dog (moto com baú acoplado para transporte dos animais), rações específicas para as raças e acessórios diversos, como bijouterias para tirar mau olhado, coleiras com strass e plaquinhas de identificação.

O veterinário Gustavo Carvalho também é proprietário da clínica e afirma que há uma procura maior por atendimentos preventivos para os animais de estimação. “O mercado está se desenvolvendo muito rápido. Tem todos os ramos dentro da medicina veterinária: cardiologista, oftalmologista, oncologista, todo tipo de especialização. Já existem escolas para cachorros: o dono vai trabalhar e os deixam na escola, onde fazem exercícios, ficam o dia inteiro e interagem com outros cães”, relata.

Os proprietários do pet shop É o Bicho, Romar Cabral e Cariciele Silva, abriram a loja em Uberaba em 2002. Cinco anos depois, vieram para Itabira. Romar faz comparações com relação ao mercado pet nas duas cidades: “O amor pelos animais é igual, só que aqui em Itabira a gente sente que o povo gasta menos. Em Uberaba, tinha cliente que gastava R$ 1.500 por mês com o cachorro; a média aqui fica em torno de R$ 150 a R$ 200”. De acordo com Romar, as empresas de rações e produtos veterinários estão lançando uma novidade a cada dia que passa. A clínica também oferece hidratação de chocolate, cauterização de pelos, banho de ofurô e veterinário 24 horas.

Uma observação feita por Romar é que o 99% por cento do atendimento é feito a cães. “Gato é raríssimo. Em Uberaba, 20% eram clientes com gatos.”

Os valores dos serviços nos pet shops visitados pela reportagem variam: banhos custam entre R$ 10 e R$ 80, de acordo com o tamanho e a pelagem do cão; a tosa vai de R$ 5 a R$100. Os produtos comercializados também têm diversos preços: o comedouro custa entre R$ 2,50 (simples) e R$ 75 (com bebedouro acoplado). Para o transporte do animal, há caixas que custam R$ 50, bolsas de R$ 100 e malas de viagem que custam R$ 380. Já as vacinas custam a partir de R$ 35 e a consulta, de R$ 60 a R$ 90. “Acho que a pessoa deve ter consciência de que vai gastar; não é um brinquedinho que você compra e coloca na prateleira. O cachorro pode adoecer; é um bebezinho que vai ter em casa”, opina Suéli.